ENTREVISTA

Dia Mundial da Poesia: escritor com mais de 60 livros publicados fala sobre gênero literário

Alexandre Bonafim acredita que gênero literário resistirá

Dia Mundial da Poesia: Alexandre Bonafim, escritor e professor (Foto: arquivo pessoal)
Dia Mundial da Poesia: Alexandre Bonafim, escritor e professor (Foto: arquivo pessoal)

Em alusão ao Dia Mundial da Poesia, comemorado no dia 21 de março, o Mais Goiás entrevistou o escritor e professor universitário Alexandre Bonafim, que já ultrapassa o número de 60 livros publicados. Aos 48 anos, ele é natural de Belo Horizonte (MG), mas vive em Goiânia há 14 anos, onde ensina literatura na Universidade Estadual de Goiás (UEG). O professor assume que, em todos os campos de sua vida, a poesia é consubstancial ao seu ser, a qual despertou sua própria essência.

Admirador de grandes poetas como Sophia de Mello Breyner Andressen, João Cabral, Eugénio de Andrade, Lorca, Sandro Penna, Kaváfis e Luís Cernuda, Alexandre já conta com diversos gêneros literários publicados, inclusive de poesia e contos, como “Paraísos eternos como relâmpagos”, “O anjo entre o deserto e o não”, “Noite de Dioniso”, “O cavalo azul”, “Nossa Senhora dos Cárceres” e “O anjo atrás da porta”.

Questionado pelo Mais Goiás sobre em qual momento descobriu a poesia, o escritor informou que ela é uma inerência e uma raiz em sua vida. “A poesia pode nos dar o nosso ser verdadeiro, nossa fecundidade. A poesia intensifica as paixões, dá mais vida à própria vida, mais alma à nossa alma, torna aguda a consciência e nos permite a grande alegria de descobrir na própria palavra a fonte de toda a beleza dos cosmos”, pontua.

A valorização da poesia

Uma das formas de arte mais antigas da humanidade, a poesia já foi muito utilizada para contar histórias, transmitir mitos e ensinamentos. Ela fez parte até mesmo das celebrações de vitórias nas batalhas de guerra. Grandes personalidades marcaram todas as épocas, como Homero, Safo, Dante Alighieri, Giovanni Boccaccio, William Shakespeare, Edmund Spenser, Percy Bysshe Shelley, William Wordsworth, Maya Angelou, Robert Frost, entre vários outros pelo mundo.

No Brasil, a poesia chegou junto com o jesuíta José de Anchieta, no século XVI. Dentre os maiores poetas brasileiros de todos os tempos estão Carlos Drummond de Andrade, Adélia Prado, Vinicius de Moraes e a goiana Cora Coralina.

Apesar de ser reconhecida como indispensável na maior parte da história da humanidade, atualmente a poesia pode parecer obsoleta, como informa Alexandre Bonafim. “A poesia, aparentemente, nos dias de hoje, pode parecer algo fora de moda. Vivemos uma crise na educação. Há uma incompetência ou desinteresse, inclusive político, para se formar jovens leitores. No entanto, a poesia é arquetípica, constitui algo inerente à própria condição humana. A humanidade surgiu no mundo pensando poeticamente. Isso não tem como obliterar, rasurar”, pontua.

O professor e escritor acredita que o gênero literário mais antigo, de onde nasceu toda a literatura, sempre resistirá. “A poesia seria essa delicadeza selvagem que sempre irá resistir e sempre estará como expressão viva frente e contra as ideologias dominantes, ao mundo desumanizado em que vivemos”, finaliza.

Veja um dos poemas de Alexandre Bonafim:

Quaresmeiras

Por entre as paredes
da memória
desenhado a giz
um menino teima
em brincar
com as sombras
do silêncio.

Quaresmeiras
latejantes de cor
também insistem
em fincar raízes
no que se perdeu.
ao adentrares a brancura
dessa página
folhas e húmus
hão de  enredar
o teu nome
o teu passado.

A brancura desse poema
há de mergulhar
a tua voz
nas origens
de todo
esquecimento.

Por entre os muros
da palavra
uma criança teima
em desenhar
na existência
um rosto de chuva
para sempre iluminado.