ELEIÇÕES

Datena chora em sabatina e diz: ‘vou morrer sem cumprir o meu sonho’

Candidato à Prefeitura de SP, José Luiz Datena disse que sonhava em “servir o povo”. Apesar disso, apresentador afirmou ter esperanças

Candidato José Luiz Datena (Foto: Reprodução)

(Folhapress) O apresentador José Luiz Datena (PSDB), candidato à Prefeitura de São Paulo, desabafou e chorou na reta final de sua participação em sabatina realizada por Folha e UOL nesta sexta-feira (13).

Datena disse que, se não for eleito prefeito de São Paulo em outubro, colocará um fim à sua tentativa de carreira política e pretende retomar a sua rotina na TV Bandeirantes.

“Eu ainda tenho esperança. Realmente, tenho esperança [nesta eleição]”, afirmou, ao ser questionado se a experiência na política serviu de algo neste momento. Na sequência, porém, parou e começou a chorar. “Eu tentei ajudar as pessoas a votar em mim, até agora não consegui, porra, o que eu posso fazer?”

“Encerro bem, tendo maior respeito por vocês, jovens de imprensa. Eu já sou um velho jornalista, reconheço a ética e capacidade da maioria de vocês”, disse antes de deixar a entrevista com lágrimas no rosto.

Embora tenha demonstrado não acreditar na possibilidade de vitória, o tucano ao longo da sabatina prometeu usar apenas o SUS (Sistema Único de Saúde) se eleito, disse que seu plano de governo “é mutável” e tem promessas inexequíveis e, entre outras propostas, defendeu que a prefeitura atue no controle da emissão de gases para evitar crises como a atual, que deixou São Paulo com a pior qualidade de ar do mundo.

Com grande popularidade pelos quase 30 anos de aparição na televisão, o tucano não tem conseguido avançar na campanha e, de acordo com o Datafolha, é apenas o quinto colocado na pesquisa de intenção de voto, com 6%.

Antes de se candidatar prefeito em São Paulo, Datena deixou claro que o seu desejo era o ser senador. No entanto, ele ensaiou ser candidato e desistiu em pelo menos quatro ocasiões.

“Para mim acabou a política, se não for eleito [prefeito de São Paulo], acabou. Foi uma boa experiência, a gente fica muito baqueado quando vê resultado de pesquisa, confio plenamente nos profissionais de pesquisas”, disse, emocionado.

Em caso de derrota no primeiro turno, o apresentador adiantou que não deverá apoiar nenhum candidato em um possível segundo turno, embora se diga amigo de Guilherme Boulos (PSOL).

“Vou morrer sem cumprir o meu sonho. Escrevi um livro, fiz tudo na comunicação. O meu sonho era servir o povo como senador. Eu poderia me aperfeiçoar melhor, e não entrar de cara numa eleição majoritária. Infelizmente, como diria John Lennon, ‘o sonho acabou’ para ser senador, e não de prefeito”, disse o tucano.

Ele também fez um breve retrospecto de sua primeira campanha eleitoral. Recordou suas caminhadas pela rua da capital e disse ter ficado muito feliz com o carinho do público.

“Foi um estímulo estar com o público, poder andar com o povo. O povão tem um carinho comigo, não tinha ideia. O povo chora, não sei se de alegria ou tristeza”, afirmou Datena.

A mediação da sabatina foi de Fabíola Cidral, ao lado dos entrevistadores Raquel Landim, do UOL, e Fábio Haddad, editor de Cotidiano da Folha.

Questionado se deverá manter a promessa de entrar na fila do SUS para fazer exames, Datena ironizou. “Se depender da Folha de S.Paulo [Datafolha] e de todas as pesquisas, não vou entrar na fila. Fica difícil falar sobre cargo de prefeito quando está em quinto lugar na eleição”, disse o apresentador. “Mas ainda há chances.”

Ao longo da entrevista, ele demonstrou pouca paciência e, na reta final, justificou que estava com dor de estômago. “Deve ter sido por causa das pesquisas”, disse. “Eu não sou covarde, enquanto o partido me apoiar, eu vou até o fim.”

Ao falar sobre suas propostas para educação, Datena afirmou que não terá condições de cumprir o seu plano de governo, documento exigido pela Justiça Eleitoral para aprovar a candidatura de prefeito.

Questionado se pretende colocar dois professores em cada sala de aula, como propõe, recuou.

“Está no plano, mas não dá para cumprir. O plano de governo foi feito às pressas, não é o melhor plano do mundo”, afirmou.

“Eu fui o último candidato a ser homologado, me apresentaram um plano de governo que, na prática, tem muitas coisas impraticáveis. Não vou prometer, como o Nunes que promete e não cumpre nem metade das metas”, prosseguiu.

Conhecido por suas críticas ao crime organizado na televisão, o apresentador falou não ser reacionário nem a favor da afirmação de que “bandido bom é bandido morto”. Ele voltou a defender o uso de câmeras, inclusive pelos homens da GCM (Guarda Civil Metropolitana).

“Letalidade é só para último caso, quando algum cidadão está sendo ameaçado e há uma ação policial. Ainda não tenho opinião formada de quando podem ser ligadas e desligadas. Tolerância zero apenas dentro da lei. Não aprovo operações ilegais e matança indiscriminada.”

Reconhecimento facial e espalhar câmeras pela cidade como forma de fortalecer a segurança pública são alternativas de Datena previstas no plano de governo. O candidato, no entanto, disse ser necessário o cuidado de adquirir equipamentos ou aplicativos imparciais.

“Preconceito existe até hoje, o preconceito racial não é nem mais velado, é uma pouca vergonha. Tem que acabar o racismo de quem está operando a câmera, mas a câmera vai reconhecer um criminoso, é uma máquina. Falar que ‘tem cara de bandido’ é um horror.”

Ele afirmou também ser necessário a criação de tropas da GCM que possam agir de maneira rápida após um crime.

Na abertura da entrevista, o candidato do PSDB afirmou que a prefeitura precisa fazer um controle da emissão de gases como os produzidos por carros e ônibus. São Paulo registrou, nesta semana, por cinco dias consecutivos a pior qualidade de ar do mundo, entre 120 cidades monitoradas pelo site suíço IQAir.

“Temos que melhorar o transporte coletivo, aumentar a quilometragem do metrô e a mobilidade.”

Também sugeriu que, para escolher o subprefeito de cada uma das 32 subprefeituras da cidade, poderá fazer um processo eleitoral entre os moradores da região. Com isso, ele pretende romper com as indicações de vereadores para o cargo, como é de praxe atualmente.

Datena prometeu ainda afastar a política do toma-lá-dá-cá. “No meu governo não vai ter verba [para vereadores] aprovarem projetos, não vai ter cargo comissionado.”

Além dele, outros postulantes foram convidados para as sabatinas. No dia 4, foi a vez de Pablo Marçal (PRTB), no dia 5, de Tabata Amaral (PSB), no dia 6, de Ricardo Nunes (MDB) e, no dia 9, de Guilherme Boulos (PSOL).

Na terça-feira (11), foi a vez de Altino Prazeres (PSTU). João Pimenta (PCO) foi entrevistado nesta quinta-feira (12). A entrevista com Bebeto Haddad (DC) ocorrerá em 16 de setembro, e a com Marina Helena (Novo), em 18 de setembro.

Folha e UOL têm feito uma série de sabatinas com candidatos de todo o país. O ciclo de entrevistas foi iniciado em 10 de junho com os postulantes de Belo Horizonte e está sendo feito, ao todo, em 18 cidades.

Além disso, Folha e UOL promoverão debate com os principais candidatos à Prefeitura de São Paulo. O encontro no primeiro turno será em 30 de setembro, às 10h. Caso haja segundo turno, haverá outro em 21 de outubro, também às 10h.