Crítica: ‘Spencer’ (2021) com Kristen Stewart
Longa-metragem acompanha um final de semana decisivo na vida da princesa Diana
Empiricamente, nunca saberei como é a vida da realeza britânica. Mas através do audiovisual, já vi muitos filmes e séries que me deram um vislumbre dos costumes e tradições reais, e é fato: que vida cheia de luxo e prazer, mas no fundo tão vazia, apática e sem graça. Aqui em “Spencer”, a princesa Diana passa um final de semana com seu marido (antes do casamento chegar ao fim), a sogra (Rainha Elizabeth II) e outros relativos, e sente justamente esta sensação de peixe fora d’água, já que foi uma mulher que não nasceu em berço real e entrou neste mundo após seu casamento com o príncipe Charles.
Logo nos instantes iniciais do filme temos uma frase que ressalta a não veracidade de “Spencer”. Ao dizer “Fábula de uma história real”, o diretor Pablo Larrain abre espaço para liberdades narrativas e criar situações que não aconteceram. E tudo bem. O intuito da obra é justamente mostrar através de Diana, em um palácio colossal, a frivolidade e superficialidade de um mundo aparentemente idílico, mas sem vida e vazio. Diana não se encaixa ali, nunca se encaixou, e sua trágica morte tempos depois foi a culminação de ações, que lá no fundo, eram de uma pessoa que não queria pertencer às demandas reais.
Mas dito isso, “Spencer” é do mesmo modo uma experiência vazia e engessada que nunca encontra um ápice dramático, ou de tensão, para tornar memorável a experiência. O que temos são idas e vindas de Diana por cenários belos e pomposos, e sempre com uma cara de angústia e tristeza. O estudo de personagem é válido, as intenções do texto são claras mas não tem emoção em “Spencer”.
Aliás, o diretor Pablo Larrain, em minha opinião, é um queridinho superestimado da indústria. Visualmente ele filma com uma beleza singular, mas seus filmes são apáticos e distantes. A crítica amou “Jackie”, que acompanha Jacqueline Kennedy (Natalie Portman) após o assassinado de seu marido, o então presidente dos EUA John F. Kennedy, mas assim como “Spencer”, é um filme seco, frio e artificial – soa até teatral em muitos momentos.
E tanto “Jackie” quanto “Spencer” possuem uma protagonista performática demais. Eu sei que a crítica aprendeu a amar Kristen Stewart depois que a atriz resolveu apagar sua imagem de Bella do “Crepúsculo” e investir em projetos independentes e fora do mainstream. Mas não consigo ser convencido. Stewart não foge das caras e bocas forçadas, e aqui em “Spencer” ela está querendo demais ser Diana. Não soa natural, mas artificial. As cenas em que a atriz atua ao lado de ótimos atores como Timothy Spall e Sally Hawkins, por exemplo, é nítido o abismo entre eles, e como os veteranos nunca parecem estar atuando.
Ou vamos pegar a mesma personagem: compare a princesa de Diana de Stewart com a princesa Diana da atriz Emma Corrin na série “The Crown” e teremos outra imensa distinção. Corrin também está visualmente parecida, mas o seu agir e gesticular soam naturais como um verdadeiro ser humano, e não como uma atriz imitando outro ser humano. Me desculpem os fãs apaixonados de Stewart, mas ela não merece uma indicação ao Oscar, e caso for, irá tirar o lugar de outra melhor candidata.
“Spencer”, portanto, é lindo e filmado com uma beleza ímpar. A fotografia de Claire Mathon é um primor, assim como o design de produção e figurinos lindos de Guy Hendrix Dyas e Jacqueline Durran, respectivamente. Mas “Spencer” é um filme que continua o cinema superestimado de Larrain.
Spencer/REINO UNIDO, ALEMANHA, EUA, CHILE – 2021
Dirigido por: Pablo Larrain
Com: Kristen Stewart, Timothy Spall, Sally Hawkins, Jack Farthing, Sean Harris…
Sinopse: Spencer é um longa cujo título faz referência ao sobrenome de solteira de Diana. Se passando nos anos 1990, Diana passa o feriado do Natal com a família real na propriedade de Sandringham, em Norfolk, Reino Unido. Apesar das bebidas, brincadeiras e comidas que Diana já sabe o script da realeza, mas esse final de ano vai ser diferente. Após rumores de traição e de divórcio, a princesa se vê em um impasse quando percebe que seu casamento com Príncipe Charles já não está dando mais certo e nunca dará, já que o príncipe ama somente Camilla Parker Bowles, mesmo com os dois filhos, portanto ela decide o deixar. Após o pedido, Diana se vê atormentada pelo fantasma da ex-rainha Ana Bolena, também deixada de lado pelo marido. Spencer é apenas uma especulação do que pode ter acontecido durante esses turbulentos dias e noites de paparazzi rodeando sua vida que antecedem o Natal e os seguintes após seu pedido oficial de divórcio.