Felicidade

A felicidade está nas pequenas coisas!

O mercado editorial tem lançado um sem fim de livros, revistas, manuais e todo tipo…

O mercado editorial tem lançado um sem fim de livros, revistas, manuais e todo tipo de instrução para o verdadeiro caminho da felicidade. Entre os que conheço, separo feliz, Grande Sertão Veredas, romance metafísico da metade da década de 50 do escritor mineiro João Guimarães Rosa. Ao contrário do que muitos pensam essa escrita rosiana não é apenas regionalista, mas global, por trazer a discussão de temas que envolvem toda a condição humana no mundo, a felicidade, por exemplo.

Nesse livro, Grande Sertão Veredas, Rosa nos ensina a olharmos para dentro de nós. A olharmos o sertão como o mundo. Ensina isso através de sua travessia pelo sertão, nas veredas de nossa existência. Ensina em cada página a aprendermos olhar para dentro de nós e vermos que nosso sertão (mundo) é formado por disputas, mortes, separação, união, fraqueza, força, tristeza, felicidade, amor, solidão e uma grande porção de bem e mal. Esse sertão dificilmente não parecerá com o interior da nossa jornada pessoal que, na totalidade, é marcada por conflitos.

A travessia do sertão (mundo) de Rosa é marcada pela linguagem/pensamento que dá vida e significado a tudo que ali existe: ao bem e ao mal… A alegria e a tristeza de viver. Nossa travessia pelo nosso sertão é marcada por nossa linguagem, nosso pensamento, pela maneira que nos comunicamos com o mundo e o sertão é o mundo, nosso mundo.

Rosa nos mostrou que é no sertão que nosso pensamento se faz forte. E se bem pensarmos é pelo pensamento que somos qualquer coisa que quisermos ser… Felizes ou tristes, bons ou maus… Podemos criar um sertão só nosso e estabelecer o que queremos para nossa existência: Ser(tão) felizes ou Ser(tão) tristes.

Um dia nos ensinou João Guimarães Rosa que a felicidade está em horinhas de descuido, nos momentos que não estamos tentando explicar ou compreender o mundo. Está no detalhe que a correria do cotidiano ofusca de nossa visão cansada e adaptada à correria da vida moderna, desfeita sob a égide das grandes transformações tecnológicas. Assim, não vemos e tão pouco sentimos essa felicidade da qual falou o escritor mineiro.

Essa felicidade está em todos os lugares, está no mundo. O escritor nos diz que está no sertão e o sertão é o mundo, é sem fim. É um pedaço de terra dentro da nossa alma onde podemos viver a felicidade sem fim. Quem marca a hora é o tempo das prosas, do convívio e da travessia.

O sertão é marcado pela travessia: uma jornada para dentro da gente e é nessa jornada que o pensamento da vida se faz forte, um pensamento sobre nossa interioridade e não um pensamento da correria que pensa o tempo como mercadoria, como necessidade de ter mais de “terSão” ao invés de “SerTão”. De ser no mundo da vida, de realizar uma estética da existência impecavelmente realizada na dimensão da nossa felicidade, daquilo que sentimos que nos preenche. E ferozmente contrária à lógica do ter. Esse sertão é a gente, é sem fim. É um espaço onde a gente é mais forte. É uma terceira margem em nossa existência.

É certo e terrível afirmarmos que na forma como a vida moderna está disposta no mundo, torna-se raro descuidar-se à procura dessa felicidade, porém isso não é o fim. João Guimarães Rosa é também o escritor da esperança na renovação da condição humana: “O senhor mire e veja, o mais bonito da vida é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, afinam e desafinam”. Se somos o som do Sertão nessa infinita melodia que afina e desafina então podemos ser felizes nessa terra sem fim do nosso sertão particular… Podemos nos afinar ao ritmo da vida e sermos realistas acreditando em milagres, no milagre de uma nova possibilidade de vida a cada nascer e pôr do sol em nosso infinito sertão.