Como ter mais tempo?
A gestão do tempo constitui uma das engrenagens mais complexas do movimento da vida social…
A gestão do tempo constitui uma das engrenagens mais complexas do movimento da vida social moderna. Nem sempre foi tão complexa e exigiu tanto de nós, o início se deu muito antes de Cristo na antiguidade (Relógios de sol, água ou areia), mas a invenção do relógio mecânico, na Europa do século XIII, acelerou esse processo, deu outra roupagem a ele que cristalizou-se com o advento da Revolução Industrial e os desdobramentos de uma sociedade de mercado que legou, a quase totalidade das coisas, um valor de mercadoria.
O tempo, por exemplo, tornou uma mercadoria conhecida por suas famosas frases “gastar tempo”, “investir tempo”, “perder tempo” ou “gestão do tempo” – são frases, que reforçam o caráter mercadológico do tempo e seu confinamento numa mera embalagem de mercadoria ou mesmo, a ilusão de prendê-lo nos ponteiros ou cronômetros das máquinas que dizem que horas são, e que nos fazem correr para ver se ainda dá tempo para algum feito da nossa densa agenda de compromissos que criamos e que nem sempre seguimos. Talvez façamos parte do grupo que elege a frase “Que horas são?”, a mais popular entre os apressados de plantão. Você já fez uma lista de coisas para realizar durante o tempo de um dia e que não conseguiu? Se sim, bem vindo, você faz parte do grupo de milhões que tenta controlar o tempo por meio de uma complicada agenda.
Se não temos tempo para quase nada e nós que criamos nossas agendas então, o tempo somos nós mesmos? Poderíamos dizer que o tempo somos nós e o que fazemos dele? Já sabemos que não é possível controlar o tempo numa agenda impossível. Sabemos também que a gestão do tempo é algo ilusório desde que tem mais coisas para gerir do que tempo para usar, mas sabemos que podemos diminuir os compromissos e optar por desconexões saudáveis de perda de tempo, de ócio, de perceber que estamos vivos e isso importa mais que nossas tentativas de controlar o tempo para sobrar tempo para outro compromissos. Talvez, por isso, as pessoas da atualidade se orgulhem de fazer o máximo de coisa no menor tempo possível.
Um exemplo, quase clássico, desse comportamento, vemos nas redes sociais. Onde não importa viver, mas falar sobre vida e amor. Fotografar, filmar, comentar, curtir, compartilhar… Tudo isso elevado ao máximo de vezes possível até não perceber o que está fazendo de verdade. O que não gostamos deletamos, apagamos, desconectamos, excluímos. Existe uma profunda e generalizada incapacidade de apreciar profundamente o que vivemos. Deixamos a vida de lado e curtimos, filmamos, fotografamos ao máximo, experiências de coisas que ficam num “rolo de máquina” ou em dispositivos eletrônicos que teremos pouco ou nenhum acesso. Esse comportamento é motivado pelo culto exagerado ao instante; não podemos perder nada e tudo tem que ser rápido e no instante e como não podemos viver tudo ao mesmo tempo nós guardamos na memória digital de algum dispositivo.
Não existe uma absorção pausada, uma experimentação demorada. Aos invés de vivermos o que existe no instante, nós aprisionamos o máximo de informação sobre tudo e partimos em busca de mais. O que recebemos de informação em um dia é mais que uma pessoa recebia em um ano inteiro, em tempos que não existiam redes de comunicação tão avançadas. O que estamos fazendo de nós mesmos? Temos tempo para responder a essa pergunta ou estamos apressados, sem tempo, e por que não, atrasados?!