O problema do brasileiro com as bets já foi longe demais
Proibir as apostas online é inútil, mas dá para fechar o cerco à jogatina e controlar muito melhor os potenciais danos das apostas
Todo mundo já sabe: no Brasil, é bet que não acaba mais bombardeando propaganda o dia inteiro na cabeça da gente. No comercial de TV, no pop-up do site de notícias, em mensagem no zap e na DM do Insta, na camisa do time do coração, no outdoor na Marginal Botafogo… Jesus, essa indústria deve ser lucrativa pra fazer tanta propaganda, né? Ô, se é.
Se você ainda não sabe o tamanho da grana que esse segmento movimenta, veja só: de acordo com levantamento do Banco Central, cerca de 24 milhões de pessoas físicas participaram de jogos de azar e apostas com ao menos uma transferência via Pix para essas empresas em agosto. Ao longo deste ano, os valores mensais de transferências brutas para as bets ficaram entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões. Repetir o absurdo sempre é bom: POR MÊS.
Os mais pobres são os que mais estão afundados nessa. Beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em apostas via Pix no mês de agosto. Isso representa 20% do valor total repassado pelo programa naquele mês. Entre os 20 milhões de beneficiários, 5 milhões fizeram apostas em agosto. O gasto médio nesse grupo foi de 100 reais.
Não dá pra deixar tudo como está.
A proibição é o caminho mais fácil e errado para tentar conter o problema. A guerra às drogas já mostrou a ineficiência da estratégia proibicionista. O Brasil tem o know-how de reduzir vícios dentro da legalidade. Nosso controle ao tabagismo se transformou em referência mundial. E com a droga dentro da legalidade. O trabalho contempla proibição de publicidade, restrição ao acesso, campanhas educativas contundentes e tributação pesada. Já sabemos a fórmula, basta aplicá-la à jogatina.
Não permitir o uso do cartão do Bolsa Família com bets também é necessário. Não faço julgamento moral, mas se o cara vai gastar o dinheiro dele com isso, que seja de outra fonte. Não a do programa governamental. Essa medida entraria dentro do conjunto que chamei de restrição ao acesso.
O problema é brutal e já assusta os setores varejista e bancário. Parece que a ficha caiu pra sociedade. Agora é hora da ação.
A farra das bets já foi longe demais.
@pablokossa/Mais Goiás | Foto: Reprodução