Tragédia no Rio Grande do Sul tem responsáveis de sobra
Pensar em quem tem responsabilidade pelo que acontece no sul do Brasil é a atitude correta a se fazer nesse momento de dor
Tragédia no Rio Grande do Sul não é fato fortuito, é bom deixar bem claro. O acaso está aí para nos proteger como diz a pior música dos Titãs, mas também para eventualmente nos destruir. O acaso é um raio que estala em dia ensolarado. As enchentes gaúchas não estão nessa categoria. Não se trata de acaso. Elas são construídas por escolhas políticas. E isso tem nome, sobrenome, partido político e lhe pede o voto periodicamente.
A sequência de eventos extremos que os gaúchos estão sofrendo me autoriza a tirar o drama de hoje do ocasional. Secas absurdas, cheias dramáticas. Vidas sendo perdidas, patrimônios destruídos, infraestrutura vindo abaixo. Uma lástima que se repete. Nada ao acaso.
Se não dá para falar em crime doloso, não sei se seria exagero tratar como dolo eventual daqueles que votam sistematicamente pela flexibilização das legislação ambiental. Ou seria culposo o comportamento de quem sempre negou as alterações climáticas com chacotas e negacionismo chinfrim?
Não podemos nos furtar desse debate.
O discurso de quem fala que politizar a tragédia não se sustenta nos fatos. A escolha por passar a boiada em detrimento da proteção ambiental é política. A poderosa bancada ruralista em Brasília vota pelo afrouxamento das regras ambientais de forma sistemática. Governadores (o gaúcho incluso) propõem relaxamentos e as assembleias endossam. Prefeitos (o porto-alegrense incluso) priorizam a especulação imobiliária com a usual candura das câmaras. E agora querem fingir que suas digitais não estão na tragédia?
Se não falarmos disso agora, falaremos na próxima tragédia? Com muitos mais corpos afogados?
Me poupe.
@pablokossa/Mais Goiás | Foto: Agência Brasil