Autoconhecimento

Neurociência e bem-estar: como melhorar o trabalho no home office

Especialista explica que conhecer o funcionamento do cérebro ajuda a melhorar o desempenho profissional

Já vínhamos convivendo com mudanças aceleradas e, agora, além disso, estamos lidando com um inimigo invisível! Muitos clientes relatam e me perguntam como podem manter ou até aumentar a produtividade e qualidade de vida de suas empresas e times. Para muitos de nós, o trabalho remoto tem sido bem desafiador. Embora sejam inúmeras as adversidades que estamos enfrentando atualmente, acredito que a COVID19 pode mudar o mundo do trabalho para melhor. E os estudos da Neurociência podem contribuir bastante nesse sentido.

Veja só como funciona nosso Sistema Nervoso, que representa uma rede de comunicações do organismo! Nosso cérebro trabalha com padrões de respostas. Então, quando o ambiente ou o contexto mudam, e eu não tenho o padrão adequado de resposta, dispara um alerta, uma reação fisiológica à ameaça.

Neste caso, há uma descarga extrema de substâncias para o embate de carga alta de estresse. Assim, claro que, em estado de ameaça, nossa produtividade e criatividade diminuem, pois no contexto da ameaça, nossa resposta é de defesa. Isso ocorre porque todo processamento cerebral será direcionado para atender essa demanda emocional com o objetivo de sobrevivência e de preservação.

Isso posto, apresento para você algumas reflexões e dicas, com base na Neurociência, para melhorar a nossa produtividade e bem estar no trabalho home office:

1.  É preciso criar novas opções de respostas que sejam adequadas ao contexto

A neuroplasticidade é a capacidade do cérebro de mudar, de se adaptar, de compensar, de se ajustar de acordo com novos cenários. Isso pode nos auxiliar muito no processo de adaptação a esse novo modelo de trabalho e de vida.

Conforme a neurocientista Dra. Lara Boyd, a neuroplasticidade é baseada por mudanças químicas, estruturais e funcionais, que, juntas, apoiam a aprendizagem. Ainda sustenta que o fator chave da neuroplasticidade é o comportamento. Assim, podemos afirmar que novos contextos requerem novos padrões de comportamentos.

Nosso cérebro é uma máquina de predições. Estamos a todo momento fazendo predições ou analisando o futuro. Quando vivemos em um ambiente de incertezas e imprevisibilidade, a tendência é nos sentirmos inseguros.

Quando eu não sei como reagir, tenho respostas como ameaça, ansiedade, vulnerabilidade e/ou estresse. Então, criar uma trilha de recursos (novas habilidades e novos comportamentos para atender esse novo contexto), pode auxiliar no aumento da nossa segurança psicológica.

Quando nos sentimos mais seguros, nossa produtividade, criatividade e bem-estar aumentam. Portanto, criar cenários mais concretos e claros diminui o estresse e a ansiedade. O cérebro precisa de dados (que há uma trilha de recursos a seguir e ter elementos para que possa perceber que está avançando).

Para isso, siga alguns passos:

  • Pense e escreva de forma concreta e específica;
  • Que comportamentos e competências preciso desenvolver para lidar com esse contexto;
  • O que precisa ser aprendido? Como será aprendido?
  • Defina marcos concretos! Defina datas e ações.
  • Para ter mais sucesso, sugiro que inicie por planos de curto prazo e metas menores para que você celebre suas conquistas e sinta-se motivado a continuar a travessia. Com o tempo e de forma gradativa, vá aumentando os desafios.

De acordo com a neurocientista Dra. Lara Boyd:

“O impulsionador principal da mudança e aprendizagem em nosso cérebro é o comportamento, a prática deliberada e constante.” Assim, após a definição de uma trilha de recursos, precisamos praticar, praticar e praticar.

2.  Aprenda sobre si mesmo e desenvolva tolerância às dinâmicas individuais

Acredito que um dos principais aprendizados seja entender como melhor funcionamos. E conhecer mais do cérebro é autoconhecimento.

Vamos aproveitar este momento para aumentar o conhecimento que temos sobre nós mesmos e sobre os outros. Vamos aproveitar para conhecer melhor as nossas forças, nossas potencialidades e aprender a lidar com nossos pontos cegos.

Agora, é uma boa hora para observarmos e experienciarmos formas diferentes de viver e de trabalhar para contribuir para nossa produtividade. Como exemplo, no meu caso, realizo uma lista de tarefas no início da semana no aplicativo Trello, o que me ajuda a minimizar minha ansiedade e também tenho mais clareza e objetividade em minhas ações.

Mas é importante lembrar que funcionamos e produzimos de formas diferentes. Não há regras e receitas. O que funciona para mim, pode não funcionar para você e vice-versa.

Por isso, a dica é observar o que facilita seu trabalho e reduz sua ansiedade. Anote e observe sua realidade. Como para alguns a realidade remota é algo novo, é preciso experienciar novos comportamentos e escolher aqueles que sejam mais adequados para você hoje, e descartar aqueles que não sejam mais úteis.

3.    Escolha um espaço exclusivo para trabalhar

 O espaço de trabalho adequado é um otimizador para sua produtividade e bem-estar. Por exemplo, se você utiliza a plataforma Zoom para trabalhar, opte por outra plataforma (por exemplo, o Google Meet) para contatos com amigos e familiares. Ter esses espaços diferentes nos ajuda a melhor gerenciar nossa vida profissional e pessoal.

Se for possível, organize um espaço em sua casa apenas para o trabalho.

4.    Evite permanecer muito tempo em uma mesma atividade

 Aquela história de que ser produtivo é trabalhar horas seguidas é totalmente equivocada.

Os neurônios precisam de um tempo para se reabastecerem metabolicamente e, assim, resgatar a atenção e o foco.

Portanto, inclua na sua lista de tarefas, as pausas estratégicas. O tempo para pausas também é individual.

Eu, por exemplo, realizo pausas a cada uma hora e meia em média. Mas dependerá do grau de complexidade de cada atividade. Pode acontecer de você necessitar realizar uma pausa antes desse tempo.

Uma dica importante: lembre-se de andar (se movimentar) durante as pausas. Estamos passando muito tempo sentados em frente ao computador e/ou smartphones. Isso pode nos trazer prejuízos mentais, emocionais e físicos sérios.

Mais do que nunca precisamos desligar o “piloto automático” para termos mais clareza das respostas comportamentais que desejamos e quais são as mais adequadas para contribuir com nossa produtividade e qualidade de vida!

E, por fim, seja gentil com você mesmo! Esse é um exercício que tenho praticado muito. Desenvolver e ampliar o mindset para não exigir mais do que consegue entregar! Pense nisso e cuide-se!

Andressa Neurociência

Andressa Nunes – Mais de 15 anos de experiência na área de Desenvolvimento Humano, CEO da Crescimento Assessoria, Especialista em Neurociências e Comportamento e Consultora em Neurociência Aplicada.