A vida se vai

Sabemos da nossa condição efémera e imprevisível e ainda assim teimamos em não aproveitar a nossa existência.

A vida se vai, mas não vai esperar você dizer adeus pra deixar alguém que você ama. Ela se esvai e não vai te dar nenhum razão pra que isso tenha acontecido assim.

O humano sabe disso e passamos os dias, um após o outro como se nunca fossemos sair dessa condição perecível.

Sempre que a morte nos resgata dessa existência indolor e automática que escolhemos viver parece um enorme castigo e talvez muitas vezes seja mesmo.

Só que nesse castigo todos nós um dia estaremos e enquanto não estamos ver o sofrimento do outro deveria bastar para acordarmos da torpeza.

Indiferença com a vida que dá sim a cada um de nós a possibilidade de ser feliz, com muito ou com pouco, nos dá a possibilidade de fazer o bem, pequeno ou grande, dá a chance de cometer erros e nos refazer em partes ou completamente. Tendo vida há tudo.

E não há como negar que é difícil demais aceitar que não poderia ter sido feito nada, que o tempo não volta, que a falta fica e não existe outro caminho a não ser seguir.

Os rios podem ser perigosos e sua correnteza pode levar pessoas, mas perigoso mesmo é a nossa incapacidade de perceber que mesmo sem as pessoas partirem, nós as perdemos.

Perdemos para o rancor, para o medo de abraçar, para o receio de dizer que ama. Perdemos para o trânsito, o campo de guerra da atualidade. Perdemos para o tempo que nunca sobra, que nunca “dá”. Perdemos para o egoísmo de nunca oferecer um pouco de nós para outro.

Morrer é uma certeza, pesada e incompreensível, já o viver é uma escolha e podemos optar por ela todos os dias, mesmo sem ter que sentir a dor que é ver alguém ser levado daqui sem ter tido tempo de se despedir.