O padecer no paraíso talvez não seja mais o suficiente, é preciso dar espaço para que aquelas que decidem ser mães possam buscar uma trajetória feliz.

Ainda sobre mães…

O padecer no paraíso talvez não seja mais o suficiente, é preciso dar espaço para que aquelas que decidem ser mães possam buscar uma trajetória feliz.

 

Eu não sou mãe. Só que hoje com quase 30 anos e com boa parte das minhas amigas e mulheres do meu convívio sendo mães, não é difícil ter uma visão do panorama que se apresenta a quem quer ter um filho (ou para aquelas que engravidam em uma “escapada”). No dia das mães sempre surgem os parabéns e mensagens lindas, sendo que na verdade o problema começa no almoço desse dia pois os restaurantes vão estar cheios já que em um único dia do ano parte das famílias levam as mães para almoçar fora. Nos outros 364 dias do ano a responsabilidade de cozinhar e depois limpar tudo, fica pra mãe.

Aquela mãe que quando engravidou todo mundo se achou no direito de dizer se a barriga estava grande ou pequena e não só dizer, mas pegar na barriga como se fosse de domínio público. Aquela que precisou ouvir que a gravidez de fulana ou beltrana foi diferente (sério?), ou que precisou ouvir insistentemente a pergunta: “mas com isso aconteceu?” Na sétima série do ensino fundamental se aprende sobre reprodução e quem não estudou, aprende na vida, então…

Mãe, aquela que passa a ter certeza que a vida do homem não muda enquanto a dela se torna uma espiral de mudanças sem fim. No corpo, na mente, na alma, na vida financeira, no círculo de amizades, nos sentimentos e até mesmo nas simples tarefas como ir ao banheiro e tomar banho. Mãe, de dois ou três que se desesperam por estarem sozinhas em casa com os “pontos” da cirurgia, com um filho no colo e outro correndo pela casa. A que não pode adoecer, não pode esquecer, não pode se quer comer (o que come interfere no leite, na saúde e até no sono do bebê).

Aquela que todas as vezes que sai de casa alguém pergunta, com quem o bebê ficou? Por certo que trancado em casa sozinho, né ?! Ou dopado dormindo… A mãe que faz compras, leva no médico, arruma o lanche, faz tarefa, põe na cama pra dormir e quando por cansaço esquece ou prefere esperar a comida de todos ser servida ao invés de fazer a “papinha” do bebê e é julgada como “desleixada”, já a que faz a comida sem sal e sem óleo é a chata, neurótica.

Os filhos crescem e não fomos ensinados a retribuir esse amor (talvez não tenha jeito mesmo), mas não temos se quer a paciência de ir ao supermercado com a mãe ou ensinar a utilizar um smartphone, quando elas tiveram paciência com a nossa letra feia na escola e nossas desobediências na adolescência. Aliás, paciência na fase adulta já que muitos continuam em casa dando trabalho como se criança fossem.

 

Mães aquelas que se habituaram a geração de pais de redes sociais que ocupam um espaço mínimo da vida dos filhos e isso se torna até um consolo, já que em outros tempos, nem essa “função” assumiam.

Acho que a retribuição do amor de mãe acaba vindo das conquistas dos filhos, desde aprender a falar e andar até quando se tornam avós. Existem ainda aquelas mães que nunca vão ver os filhos ser quer andarem por exemplo e se alimentam da sobrevivência diária do filho, da esperança de estar dando a ele o mínimo de conforto e o máximo de amor no tempo em que ele está nessa vida.

Queria muito não “ver” tudo isso. Queria conhecer mais mães menos sobrecarregadas, menos julgadas, menos punidas, mais livres para seguirem seus instintos e princípios, queria conhecer mais pais dedicados, que se entregam também a criação dos filhos como uma missão e não como uma simples equação de pagar contas. Queria conhecer mais pais que não ignoram as limitações de uma grávida com pés inchados e com pouco fôlego. Mais pais como olheiras por dormir pouco, cansados das tarefas domésticas, mais pais de verdade.

Minha intenção não é diminuir as mães, pelo contrário. É dizer a vocês que estamos vendo. Dá pra enxergar tudo isso. Não vê quem não quer. Eu prefiro ver e tentar não cair nos mesmos clichês. Prefiro ser uma mulher que apoia as mães inquestionavelmente. Sem julgar. Sem medir. Sem comparar. Eu me orgulho de vocês e admiro quem vocês são e se tornaram. Minha eterna devoção a quem se tornou mãe e escolhe todos os dias continuar sendo. Contem comigo, quando precisarem e quando não precisarem também.