Cemitério de sonhos 2

Em uma onda crescente que parece não ter fim, a violência continua sepultando jovens e seus sonhos.

Será que existe algum motivo que de fato possa tornar um assassinato, justificável? Goiânia mais um dia se vê diante da morte de um jovem. A razão da morte, ter feito uma pergunta a pessoa errada.

Todo o contexto da morte de um jovem de 19 anos, morto sem qualquer justificativa é terrivelmente entristecedor. Mas assustador mesmo é ver que as pessoas estão se acostumando tanto com a violência, que se contentam em justificar a morte do rapaz “por ele ter respondido a pessoa errada”.

Eu nunca vi alguém que carregasse consigo um crachá com os dizeres: Não me responda, sou a pessoa errada, posso te matar. Que realidade é essa em que a vitima é o culpado e o assassino tem suas razões?

Como vamos saber quem são as pessoas erradas? Nunca saberemos. O que eu sei é que estamos cada vez mais condicionados a aceitar mortes serrazão, estamos nos habituando a aceitar que é melhor ficarmos presos em casa, ainda que nossas casas também não sejam garantia de segurança.

O que doí ainda mais, é ver dia após dia os cemitérios serem preenchidos por sonhos e não por historias de pessoas que viveram plenamente. Pra cada jovem que morre, vai um pouco de esperança em viver em uma cidade em que não se tenha medo de atravessar a rua a pé.

Morrem famílias inteiras, sufocadas na dor de perder aquela parte de si que carregava tanto futuro. Morre um pouco de cada cidadão que não consegue mais viver assim. Encarcerado no medo, preso no terror que é viver sem segurança.

Passou-se pouco mais de um mês da morte da jovem baleada nas proximidades do colégio em que estudava. O Governo disse que providências seriam tomadas. Morreram moradores de rua. Bancos são destruídos e saqueados quase todos os dias. Carros roubados. Pessoas assaltadas.

E o medo e a desesperança estão quase vencendo, já que nós não conseguimos saber quem são as pessoas erradas.