Chernobyl e a Amazônia, qualquer semelhança não é mera coincidência.
Ignorar a ciência é sempre um caminho comprovadamente perigoso que muitos teimam em seguir.
O acidente nuclear que aconteceu na Usina de Chernobyl ainda é um fato que gera controvérsia sob vários aspectos, mas alguns pontos acabaram sendo esclarecidos pela história. A ânsia da então União Soviética em estar na frente dos Estados Unidos no desenvolvimento de tecnologias que envolvessem energia nuclear e o seu sistema político fundamentado mais nas alianças entre os seus “camaradas” do que na competência dos que estariam a frente do poder, foram fatores que colaboraram para que o acidente acontecessem.
Um outro ponto interessante é que quando o acidente aconteceu os primeiros a darem o sinal de alerta forma os Suecos, enquanto a URSS tentava esconder o que havia acontecido, até mesmo da população que seria afetada diretamente, foram outros países que ao identificarem os níveis elevados de radiação alertaram o mundo para o desastre ocorrido.
E o que isso tem a ver com a Amazônia? O número de queimadas e o índice de desmatamento só aumenta, desde 2016 esse movimento se acentuou e já em 2019 isso só foi intensificado. Apesar da gravidade escancarada por esses números, isso só incomoda apenas quando de alguma forma o desequilíbrio na Amazônia afeta algo “fora”.
Na crise hídrica vivida por São Paulo foi apontado que o desmatamento da Amazônia está diretamente ligado a redução das chuvas na região Sudeste e ai então os olhos e atenção do país se voltaram para a sua floresta.
Esse movimento se repetiu novamente, em um dia em que o céu da capital paulista escureceu no meio da tarde, a informação de que seriam as queimadas em Rondônia a causa daquele fenômeno climático, acendeu novamente os holofotes sobre a Amazônia.
É bom lembrar então que as queimadas na região Norte já estavam acontecendo há mais de dez dias sem que houvesse uma comoção significativa a respeito. E isso nos mostra muito mais semelhanças com Chernobyl do que seria minimamente recomendado.
Ignorar os dados científicos, os números obtidos através de pesquisas sérias e ferramentas tecnicamente adequadas, se tornou uma constante dos nossos tempos. É preciso ir além, a crença absolutamente infundada que a preocupação com o meio ambiente é uma pauta de esquerda fez com que uma questão que importa a todos que são seres vivos se tornasse mais um ponto de divergência.
É espantoso pensar que na atualidade lembrar que todos nós precisamos de água e oxigênio pra vivermos, nunca é demais. Esquerda, Direita, Conservador ou Liberal, todos comem, bebem e respiram. Como bem questionou Bertolt Brecht:
“Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio?”
Adam Higginbotham, autor de Midnight in Chernobyl (Meia-noite em Chernobyl, em tradução livre, 2019), que reúne testemunhos sobre o desastre disse em um entrevista à BBC que “que uma cultura que nega evidências científicas e é baseada em mentiras e sigilo não é segura para ninguém.”.
A grande ironia é pensar que o atual governo federal que se elegeu com o discurso de anti-socialismo acaba por se comportar de modo tão semelhante justamente com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o que só prova que ignorância é algo que não se restringe a uma ideologia política.
E ai a necessidade da defesa do óbvio se faz presente mais uma vez, o que está acontecendo é justamente isso, negamos as evidências científicas, escondemos o estrago disso e de algum modo queremos acreditar que no final vai dar tudo certo.
O ponto é que a própria história já nos mostrou qual é o final desse “filme”, o desequilíbrio ambiental não é apenas uma pauta política – e jamais deveria o ser – é uma ameaça a vida humana, que teima em repetir seus erros sem aprender com as grandes quedas que colecionou ao longo do caminhar da humanidade.