Compartilhar é agredir também
A violência por si só assusta, o que choca ainda mais é saber que existe quem receba vídeos e imagens das agressões sem expressar qualquer reprovação.
Quando monstruosidades como um estupro coletivo são noticiadas não só os problemas da violência e da impunidade ficam expostos. A ferida vai além.
Observando todos os prismas levantados pelas mais variadas pessoas o que se percebe é sempre um resquício de responsabilização da vitima. Infelizmente.
O mais assustador é ver que o fato só teve tamanha repercussão, pois os autores divulgaram em uma rede social. Continuemos. Se alguém, ainda que correndo o risco de produzir provas contra si mesmo, publica um vídeo na internet, é por que ele terá espectadores que aprovarão o que ele fez.
E ai está o X da questão. Comportamentos violentos praticados por homens contra mulheres, acontecem todos os dias. Só que com o fenômeno dos smartphones e aplicativos de compartilhamento, eles passaram a ser eternizados e divulgados. Isso faz com que a vitima nunca pare de sofrer, já que a exposição por si só é uma violência.
Vídeos de pessoas em situações de vulnerabilidade, sendo violentadas e humilhadas são compartilhados em grupos sem que ninguém se manifeste contra o absurdo que é por si só divulgar esse tipo de arquivo.
É decepcionante pensar que essas pessoas nunca tenham pensado que elas mesmas podem se tornar vitimas de um compartilhamento como esse. Seus filhos vão crescer acreditando que aquele que expõe o outro ao ridículo ou a uma humilhação, grava e compartilha é o certo.
Infelizmente é preciso dizer que se você, ainda que jamais tenha cometido qualquer tipo de violência contra mulher, recebe vídeos em que mulheres são subjugadas e violentadas e não manifesta se quer sua desaprovação com relação a isso, você esta sendo conivente.
Matin Luther King disse, o que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos. Essa frase nunca fez tanto sentido. Quem compartilha a violência e não se manifesta contra ela, violenta o outro também.