Discordo, pero no mucho.
A incrível capacidade de discordar e seguir em frente sem mágoa por enxergar no outro aquilo que é diferente.
O “homo zappiens” ser que surgiu junto com a comunicação digital é capaz de fazer transações complexas em questão de segundos com outros “homo zappiens” que estejam separados por oceanos, mas não é capaz de se relacionar com a velha e boa discordância.
Talvez seja um fenômeno incentivado pela possibilidade de dar um like ou não curtir algo sem saber como será a reação de quem está do outro lado da tela, ou a velocidade com que tudo acontece que nos impossibilita de pensar a respeito do que será dito antes de dizer e principalmente o fato de que se tornou absolutamente opcional “seguir” alguém que não tenha exatamente a mesma linha de pensamento.
O problema é que na vida real não dá pra simplesmente deixar de “seguir” aquelas pessoas que são tão queridas mas que em um dado momento acabam deixando vir à tona um pensamento contrário quanto a alguma questão ambiental, emocional ou até mesmo espiritual.
Equipes de trabalho não são estruturadas apenas com base na afinidade dos seus componentes, é preciso pessoas com habilidades diversas que complementem umas às outras independentemente de suas linhas de pensamento.
É obvio que a discordância e a intolerância sempre existiram e que são da natureza humana, o que é novo é o desconforto em se deparar com a realidade de que existem pensamentos completamente diferentes e se tornou ainda mais chocante pensar que mesmo assim essas pessoas podem conviver em harmonia, pensando de modos diferentes.
Em um mundo cada vez mais plural e conectado, assusta o movimento de repelir o diferente já que a tendência natural seria entender que é normal não ser todo mundo igual. Por outro lado como a internet agora anda nos nossos bolsos, literalmente, essa diferença que muitas vezes estaria na nossa frente em poucos momentos acaba se tornando algo que se manifesta a todo tempo diante dos nossos olhos.
E então como lidar com isso? Exercitando a tolerância, ao optarmos receber apenas o conteúdo que gostamos, concordamos e “curtimos” excluímos dos nossos horizontes a diversidade, o diálogo, o contraditório e perdemos muito, já que não há como elaborar bons argumentos sem ter olhada pra todos os lados.
O que se perde de mais precioso é justamente a capacidade de enxergar que existem vários seres humanos com inúmeras realidades absolutamente diferentes e que em meio a tudo isso muitas vezes não há quem esteja apenas certo ou errado, todos em seu contexto podem estar coerentes ou não e só se estivermos abertos o suficiente pra entender isso é que poderemos discordar e seguir em frente, sem mágoas afinal.