A crise hídrica não é um resultado apenas da diminuição do volume de chuvas e da ingerência do Poder Público, dessa vez a cultura do desperdício também tem seu protagonismo.

E agora José, a água acabou ?

A crise hídrica não é um resultado apenas da diminuição do volume de chuvas e da ingerência do Poder Público, dessa vez a cultura do desperdício também tem seu protagonismo.

Clima seco e calor, é Setembro em Goiás, ate aqui nenhuma novidade. Não existe nada de novo também no cenário de escassez de água que se tornou uma realidade. Podemos dizer que não há nada de novo, pois fomos avisados que isso iria acontecer através dos anos, por décadas, verão após verão.

Ainda assim continuamos lavando calçadas quase que diariamente, jogando o lixo orgânico misturado com os resíduos recicláveis, desviamos as nascentes, deixamos o gado pisotear as matas ciliares, tomamos longos banhos, usamos nossos eletrodomésticos sem nos preocupar com o consumo de água e energia, e agora “a festa acabou”!?

As ações citadas são apenas algumas das tantas que nos levaram ao ponto em que chegamos, só que o principal não é tratar o sintoma como é típico do brasileiro, é preciso atacar a causa do problema. A falta de água é apena a consequência de uma cultura de desperdício e ausência de planejamento.

Durante décadas tivemos chuvas abundantes, com os reservatórios atingindo seu limite e as bacias hidrográficas apresentando “saúde”, só que o uso indiscriminado dos recursos naturais e a crença de que “aqui não falta sol, aqui não falta chuva” fez com que ignorássemos que nos últimos quatro anos, as chuvas nas regiões em que estão localizados nossos reservatórios tiveram uma redução de 25%.

A chuva diminuiu e o consumo não, a poluição também não, o uso irresponsável continua e a frase “se não jogar agua não limpa”, continua sendo um mantra. Só que agora não vai limpar, pois não tem agua mesmo.

A população já cansada dos desmandos do poder público quer colocar na conta do governo essa responsabilidade também, mas dessa vez não dá. É impossível que o Governo consiga fiscalizar diariamente condomínios que insistem em lavar garagens, áreas comuns, escadas e etc, moradores que lavam suas calçadas quase como uma terapia, banhos de horas, encanamentos com vazamentos, desvios clandestinos e todo tipo de irresponsabilidade possível com relação ao uso da água.

Não é difícil entender que tudo que se gasta em uma proporção maior do que se ganha, em algum momento vai faltar e foi isso que aconteceu. É obvio que o Poder Público tem sua parcela de responsabilidade, só que dessa vez se cada um não mudar a forma como lida e cuida da água a que tem acesso, a seca não vai vir apenas nos meses de estiagem, ela vai se tornar uma constante, uma triste presença em um Estado que sempre esteve (mal) acostumado a ter água todo tempo.