Opinião

Emprestar e reutilizar: os novos hits da estação

A troca da aquisição pelo simples acesso representa a possibilidade de uso consciente de bens que muitas vezes representariam um enorme gasto sem proporcionar qualquer tipo de retorno para quem o adquiriu.

Talvez em vários momentos da vida, você tenha usado um vestido emprestado, adquiriu um jogo de malas pra viagem em conjunto com um parente ou amigo, dividiu o carro alugado com a turma em uma viagem e essas são apenas algumas situações em que o conceito de economia compartilhada se apresenta sem que percebamos.

Em um mundo que oferece uma variedade infinita de bens de consumo e fomenta uma cultura de que é preciso possuir esse ou aquele bem, a economia colaborativa e/ou compartilhada surge como uma alternativa capaz de nos resgatar do anseio incessante de adquirir bens.

Iniciativas como Uber e o Airbnb, são a prova de que além desse tipo de oferta de serviço funcionar, o mundo precisa deixar de pensar apenas na aquisição de bens para pensar que basta ter o acesso a eles.

Será de fato necessário comprar um vestido de festa que será utilizado em poucas oportunidades e terá um alto investimento? As famílias precisam imobilizar seus ativos na compra de um automóvel pra cada componente familiar? É de fato necessário investir escritórios quando já temos tantas salas para coworking?

São questionamentos que começam a surgir com maior intensidade e demonstram que paradigmas começaram a mudar. Olhando de longe a cultura do ter pode estar ligada tanto ao anseio do brasileiro por uma segurança financeira, por ainda ter na memória o medo da inflação e confisco das poupanças e também demonstra o modo como nos enxergamos através dos bens que possuímos. Nas duas situações, aquele que continua adquirindo bens sem consciência, ao contrário do que possa parecer, permanece longe da construção de um patrimônio sólido.

A aquisição de bens mediante financiamentos, a permanente compra de bens de consumo não duráveis, a falta de planejamento financeiro e principalmente a falta de consciência de consumo, nos mostram que sem dúvida alguma a reutilização de bens e compartilhamento são alternativas que podem não só mudar o formato de consumo, mas também alterar como as pessoas se relacionam com o ato de comprar.

Nessa nova tendência brechós, lojas que reformam produtos, o reúso de matérias primas, grupos que compartilham itens, ambientes compartilhados, plataformas que oferecem soluções plurais, são as iniciativas que mais avançam.

Precisamos abrir nossos corações para essa nova realidade que surge. É preciso pensar se de fato estamos utilizando nossos recursos da forma mais eficaz e sustentável em nossas próprias vidas. É necessário parar de pensar em uma satisfação momentânea para priorizar a viabilidade econômica a longo prazo.

Não é fácil deixarmos de pensar que adquirir tudo aquilo que desejamos não seja a única alternativa possível para a satisfação pessoal, ao mesmo tempo se pensarmos que não é preciso ter aquele bem e que ter acesso a funcionalidade que ele proporciona já é suficiente, passaremos a fazer escolhas mais econômicas e sustentáveis.

Talvez não seja um grande equívoco dizer que compartilhar/colaborar seja o novo “must have” da estação.