Existir sem ter vivido

A ironia da vida é que ela tem uma única certeza e mesmo assim passamos por ela muitas vezes, sem nunca ter de fato vivido.

A morte, única certeza que temos e ainda assim há tanta gente desperdiçando a vida. Não falo dos que vivem nos limites e de um modo ou outro se vão cedo.

Digo aqueles que ano após ano não encontram a verdadeira aptidão, os motivos que fazem sorrir, as razões para batalhar, não deixam um legado. Chamo de legado, não os bens materiais que alguém deixou, mas aquela presença que se sente quando a lembrança vem.

Existem pessoas que em vida lutaram tanto para viver e realizar que quando partem a simples lembrança é suficiente pra trazer de volta tudo o que aquela pessoa significou.

É tão repetitiva essa história de viver a vida, mas mesmo assim, parece que a cada dia que se passa ao invés de escrevermos nosso livro estamos apenas passando as páginas em branco.

Dia que amanhece, noite que chega, sem cessar. A vida se resume a isso, o inevitável andar do relógio?!

O tempo ser implacável é um desafio que a vida nos deu, a brincadeira seria a seguinte, a vida só deixa o tempo parar quando você for tão bom em viver, que aquele momento vai poder dar uma pausa no caminhar da vida.

E as vezes acontece sim, tem cenas que passam diante dos nossos olhos em câmera lenta, sabores que dão impressão de infinito, cheiros que nos teletransportam, abraços que nos protegem de todo e qualquer mau, beijos que fazem um minuto se tornar uma hora e sorrisos que valem uma vida.

Ela vai chegar, de todo modo, não sei quando, nem de que jeito, para todos. Ainda assim o desperdício continua, a perca de vida com brigas sem razão, sentimentos ruins que só nos adoecem, a valorização do que nem valor tem, vivemos como ratinhos em suas rodinhas, apenas girando, sem saber qual seria a razão que faz isso valer a pena.

O que se sabe é que existem pessoas que mesmo não estando mais entre nós, se fazem presentes em todas as acepções dessa palavra.  Por mais que não se saiba o destino de quem vai, ou se de fato ele não existe, tem quem parte e deixa muito aqui.

Não que tenhamos que viver pelo medo de morrer, mas temos que buscar aproveitar o caminho, pra não partir tendo apenas existido e não de fato vivido.