Há vagas

“O que as pessoas menos gostam em você”, pergunta o entrevistador. O candidato responde: “Sou muito metódico, quando as pessoas dão suas opiniões dificilmente consigo mudar o que eu penso”.

A entrevista acaba e a dúvida que fica é se o candidato sabia o que estava falando. Se aquele jovem se contradisse por nervosismo ou por tentar dar uma definição de si com o termo errado? Será que ele sabia que o que ele descreveu não é ser metódico?

Essa dúvida é o menor dos problemas. Em um processo seletivo, fica evidente o quanto a formação dos jovens e as expectativas sociais estão em completo descompasso.

A valorização extrema da formação acadêmica como única requisito para formação profissional faz com que o mercado receba todos os dias pessoas com diplomas, mas que não fazem ideia do que é trabalhar. Não se conhecem, não sabem quais são suas aptidões e muito menos quais são seus desejos reais.

Talvez a concepção de que os pequenos trabalhos não sejam dignos esteja acabando com nossa perspicácia, desenvoltura e resiliência.

Há quem defenda que todos nós deveríamos realizar três atividades impreteríveis para que sejamos profissionais completos, vender, servir e organizar eventos.

Parece ilógico, já que em tese isso não envolve nenhum tipo educação superior em específico, o que é um grande engano e essas atividades podem despertar em nós talentos que nem conhecíamos.

É obvio que todos nós devemos buscar o aperfeiçoamento, mas isso não quer dizer que não devemos dar chance para as oportunidades que talvez não estejam dentro das nossas expectativas.

Antes de tudo é preciso ter experiência, não em um cargo, é preciso vivência e além disso, é necessário reconhecermos que não sabemos quase tudo, para começarmos a aprender um pouco.

É preciso colocar a mão na massa em qualquer situação pra que no momento em que a oportunidade desejada surgir às pessoas saibam agarra-las. Antes de merecer é preciso fazer por onde, será que isso tem acontecido?