Mulheres na política: uma urgente necessidade
Certa vez a filósofa Simone de Beauvoir afirmou que é pelo trabalho que a mulher…
Certa vez a filósofa Simone de Beauvoir afirmou que é pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separa do homem. E que somente o trabalho poderá garantir às mulheres o que seria a “independência concreta”. Já se completam mais de três décadas da morte da francesa, que também era escritora e ativista política. Mas sua frase continua atualíssima.
Aproveito a reflexão de Beauvoir sobre a desigualdade de gênero no mercado de trabalho para estender o raciocínio ao universo político, tanto classista, quanto partidário. É consenso que ainda é tímida a participação feminina na política brasileira e um dado marcante chama à atenção. Ocupamos o 154º lugar entre 193 países no ranking de participação das mulheres em cargos eletivos, segundo pesquisa da Inter-Parliamentary Union.
Não obstante, outra estimativa alarmante pode ser observada analisando dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) referente às últimas eleições municipais, de 2016. Eles mostram que, no Brasil, há sete vereadores (homens) para cada vereadora (mulher). Resultados negativos apesar do dispositivo da Lei nº 9.504/1997, A Lei Eleitoral, que estabelece que cada partido ou coligação deve reservar pelo menos 30% de suas vagas para candidaturas de mulheres.
Diante do cenário desestimulante, a pergunta que fica é: por que ainda votamos proporcionalmente menos em mulheres? Por que não as escolhemos para nos representar nas casas legislativas e nos poderes executivos? A resposta pode ter embasamento em questões culturais, dada à estrutura social machista em que vivemos, mas não se limita ao preconceito e à discriminação.
A barreira institucional que limita a participação feminina na política está também entrelaçada às relações de poder dentro dos partidos políticos brasileiros. Não se observam iniciativas perenes para atrair e manter mulheres nos quadros político-partidários. O que se vê são filiações desesperadas e, muitas vezes, aleatórias de integrantes do sexo feminino para cumprir a cota determinada pela legislação às vésperas das eleições. Filiações estas que, em sua maioria, sequer se mantém nas legendas após o pleito.
Um exemplo desta triste realidade são as chamadas candidaturas laranjas — nascidas por tabela pela exigência legal. Em suma, nada mais são do que uma inevitável consequência da polarização masculina nas fileiras partidárias.
O cenário político clama por mudança. E a maior participação feminina na vida pública do país é um importante passo nesse caminho. Todavia, a inclusão deve ocorrer não apenas nos períodos eleitorais, mas de forma efetiva no dia a dia da agenda partidária. Afinal, mais mulheres no comando do executivo e do legislativo significa maior chance na luta pela igualdade de direitos da nação e maior amadurecimento da democracia do país.