A Ponte do Rio Kwai (1957) | Relembrando Clássicos
Longa-metragem ganhou 7 Oscars - incluindo Melhor Filme e Diretor para David Lean
Um pelotão de soldados ingleses é levado cativo para um campo de concentração japonês durante a Segunda Guerra Mundial com a finalidade de trabalhar na construção de uma ponte ferroviária entre Tailândia e Burma. O longa-metragem ganhador de 7 Oscars – incluindo Melhor Filme e Diretor para David Lean – é adaptado do livro homônimo de 1952 escrito pelo francês Pierre Boulle, que foi feito prisioneiro de guerra em 1943 por tropas francesas complacentes com a ocupação alemã.
“A Ponte do Rio Kwai” é um filme de campo de concentração, fuga, mas uma obra que está mais interessada em estudar os comportamentos humanos de dois regimes completamente distintos (japoneses e ingleses) em uma situação onde ambos, de certa maneira, estão obedecendo ordens. O Coronel Nicholson (Alec Guinness, ganhador do Oscar pelo papel), um inglês condecorado que preza pela disciplina e o cumprimento da lei, insiste em dizer que seus homens são soldados, e não prisioneiros, e que foram instruídos a se entregarem para a realização da construção da ponte. Enquanto isso, o chefe do campo militar, o Coronel Saito (Sessue Hayakawa), é um japonês austero, rígido e que faz questão de esbravejar que os capturados ingleses não são mais soldados, e sim, prisioneiros. Uma disputa de egos se instaura na história, e através dela, acompanharemos como aos poucos o capitão Nicholson consegue manipular a situação, e através da construção da ponte, estabelecer uma força de orgulho para provar aos japoneses que agindo corretamente, com justiça e disciplina, irão conseguir motivar os homens e realizar um trabalho digno de ser lembrado para sempre.
E ao mesmo tempo temos um personagem norte-americano chamado Shears (William Holden), que é um sobrevivente e não tem vergonha de agir como pode para se manter vivo. Ele consegue fugir milagrosamente do campo militar e chegar até o hospital dos aliados. Com aquele jeito malandro e bon vivant, Shears é chamado pelos oficiais ingleses e “solicitado” à retornar ao local de seu cativeiro para ajudar na destruição da ponte, e prejudicar o transporte de mantimentos e artilharia pelas tropas japonesas.
Diante de tal cenário, o diretor David Lean estabelece um filme sobre relações e comportamentos. Um estudo do homem e de sua ganância em estabelecer a ideia de poder e controle. Ainda que os japoneses sejam colocados claramente como vilões, as atitudes do capitão Nicholson também beiram o exagero, à ponto de colocar outros homens em detenção por sua atitude de manter uma imagem indômita diante do general japonês (“Oficiais não fazem trabalho braçal!”, ele diz). E a ponte do título torna-se o objeto primordial que será reflexo desta aparência de superioridade, e Nicholson não deseja fazer qualquer ponte, e sim uma excelente ponte que servirá de exemplo da superioridade do exército inglês mesmo em situações adversas. Mas este também torna-se um escravo de si mesmo à ponte de esquecer quem é o seu lado na guerra – as atitudes do coronel no ato final contra o seu próprio lado provam isso.
O desfecho de Lean é um personagem olhando para toda a destruição causada e o trabalho desperdiçado e dizendo: “Loucura! Loucura!”. Uma cena que exemplifica que não há lados sãos em uma guerra, mas apenas loucura, destruição, desperdício e vidas perdidas.
“A Ponte do Rio Kwai” é um filmaço importante e um clássico de guerra que abre margem para uma conversa envolvente sobre a frivolidade da guerra. Confesso que o filme possui alguns momentos de barriga que poderiam ser resumidos, ou retirados, para deixar a história mais objetiva e com melhor ritmo – e tenho também problema com o uso de uma trilha sonora animada em situações inoportunas -, no entanto, ainda assim, o longa é uma obra poderosa, importante e uma ressalva da grandeza de David Lean como diretor.
The Bridge on the Riber Kwai/REINO UNIDO – 1957
Dirigido por: David Lean
Com: Alec Guinness, William Holden, Jack Hawkins, Sessue Hayakawa…