Christopher Nolan revela que não gosta do termo ‘cinebiografia’, diz que ‘falha completamente como gênero’

O filme de sucesso “Oppenheimer” do diretor Christopher Nolan foi adaptado do livro biográfico de Kai Bird e Martin J. Sherwin intitulado “American Prometheus: The Triumph and Tragedy of J. Robert Oppenheimer”. Mas o célebre cineasta não quer que ninguém o chame de filme biográfico.

Em um painel recente na City University of New York (via Variety), Nolan explicou que não gosta do termo “cinebiografia” porque a totalidade da vida de uma pessoa não pode ser transmitida com precisão em um filme. Na sua opinião, tentar capturar toda a biografia de alguém num filme simplificará desnecessariamente a sua existência.

“Há uma tendência na biografia pós-Freud de atribuir características da pessoa com quem você está lidando à genética de seus pais. É uma visão muito redutora do ser humano”, disse. “Se você está escrevendo um livro de 500 ou 1.000 páginas, há uma maneira de equilibrar isso com sua individualidade e experiências. Quando você comprime e reduz à simplicidade necessária de um roteiro, é incrivelmente redutor.”

Nolan explicou que não vê “Oppenheimer” como um filme biográfico porque cobre apenas uma parte selecionada da vida do sujeito. Ele vê o filme mais comparável a um “filme de assalto” ou a um “drama de tribunal”.

“É aqui que o conceito de filme biográfico falha completamente como gênero”, disse ele. “Não é um gênero útil. Adoro trabalhar em gêneros úteis. Neste filme… é um filme de assalto no que se refere ao Projeto Manhattan e um drama do tribunal no que se refere às audiências de segurança. É muito útil observar as convenções desses gêneros e como eles podem atrair o público e como podem me comunicar com o público.”

Nolan concluiu seus pensamentos dizendo que acha que os verdadeiros grandes filmes biográficos transcendem o rótulo biográfico e são vistos pelo público como entradas em gêneros mais específicos.

“Cinebiografia é algo que se aplica a um filme que não é registrado de forma dramática”, disse ele. “Você não fala sobre ‘Laurence da Arábia’ como um filme biográfico. Você não fala sobre ‘Cidadão Kane’ como um filme biográfico. É um filme de aventura. É um filme sobre a vida de alguém. Não é um gênero útil da mesma forma que o drama não é um gênero útil. Isso não lhe dá nada em que se agarrar.”