Crítica: ‘A Favorita do Rei’ (2023) com Maïwenn e Johnny Depp
Longa-metragem foi dirigido e estrelado por Maïwenn
Ao fim de “A Favorita do Rei”, dirigido e estrelado Maïwenn, a sensação que tive foi de desperdício. De oportunidade perdida. A história real da Madame du Barry é um tanto quanto curiosa. Filha de uma cozinheira e costureira, e nascida de maneira ilegítima (não se sabe quem é o pai), Marie-Jeanne Bécu, por causa de um amante da mãe, conseguiu obter certa educação, estudou e morou por um período em um convento e aos 15 anos já começou a trabalhar sob o nome de Jeanne Rançon.
O que mais chamava a atenção em Jeanne era sua beleza física. Dona de um corpo sedutor e olhos azuis magnéticos, ela começou a trabalhar em prostíbulos e a criar conexões com a Alta Corte Francesa. Era uma mulher que sabia influenciar os homens e tinha um espírito libertino sedutor. Aos 20 anos, acompanhando um de seus amantes em um evento com a presença do rei Louis XV, Jeanne conseguiu ser notada pelo monarca e foi chamada para encontrá-lo no palácio.
Resumindo bastante sua história, Jeanne tornou-se bastante próxima de sua majestade e também sua amante favorita. Há relatos que dizem que ela teve forte influência em Louis XV com relação a várias questões políticas, e muitos começaram a se aproximar dela com interesse em usá-la para chegar ao soberano. A questão é que tanto Jeanne quanto Louis XV tinham personalidade forte, e o amor do monarca francês por ela se refletia nas inúmeras regalias presenteadas à sua pessoa, como joiás, vestidos e até um palácio.
No entanto, no filme “A Favorita do Rei” temos uma representação totalmente insossa e sem vida de uma personagem polêmica, e com uma história rica em detalhes e situações que nas mãos de um diretor mais sínico e incisivo, renderia um filme extremamente provocativo e crítico à monarquia da época. Mas o que temos, é um drama pálido que não é nada sexy, provocador e cujo romance entre Jeanne com o Rei Louis XV (aqui interpretado por Johnny Depp) em nenhum momento soa convincente.
Aliás, apesar do que a narração em off apresenta, a Jeanne du Barry interpretada por Maïween não convence como uma mulher sensual, provocativa e interessada por questões políticas do período, de um país cujo descaso pelo povo iria culminar na fatídica Revolução Francesa, e na cabeça cortada da própria Jeanne, como também de nomes fortes da realeza como Maria Antonieta, por exemplo. No entanto, o único traço de interesse social visto no filme é quando Jeanne ganha de presente do rei um menino negro da África, e esta fica apaixonada e decide adotar o garoto (numa tentativa superficial de mostrar o quanto ela se importa com os rejeitados).
Apesar de Johnny Depp trazer presença e certa imponência como Louis XV, infelizmente o roteiro é péssimo ao construir um personagem tão tedioso de um filme por si só já desinteressante em seus demais aspectos. Ainda que a fotografia e a direção de arte sejam competentes (o longa foi até filmado em locações reais como no próprio Palácio de Versalhes) ao construir a atmosfera soberba e voluptuosa do período, o grande pecado de “A Favorita do Rei” é possuir um roteiro que perde todas as oportunidades de contar a vida de uma pessoa bem mais intrigante. Infelizmente.
Jeanne du Barry/FRANÇA – 2023
Dirigido por: Maïwenn
Com: Maïwenn, Johnny Depp, Benjamin Lavernhe…
Sinopse: De alguma forma, ainda com 20 anos, foi acompanhando um de seus amantes, o Marechal de Richelieu, em uma visita à Versailles, que Jeanne foi vista pelo Rei Louis XV, mudando o curso da História.