Crítica: ‘Ainda Estou Aqui’ (2024) de Walter Salles
Longa-metragem é estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello
Já até vejo algumas pessoas chamando “Ainda Estou Aqui” de filme brasileiro ruim por ser, simplesmente, um filme brasileiro, e outras o classificando como lento e sem história. A construção narrativa adotada pelo diretor Walter Salles é mais devagar, porém, se tem algo que este fenomenal “Ainda Estou Aqui” não é, é um filme sem história.
A cada momento, a cada segundo, a cada acontecimento, Salles não apenas está contando a história desta família cujo patriarca da casa, Rubens Paiva (Selton Mello), foi chamado para prestar depoimento pelos militares durante a ditadura no Brasil, e nunca mais voltou pra casa, como tudo neste filmaço é uma denúncia sobre milhares de outros casos que ocorreram com outras inúmeras famílias.
E a todo momento estamos seguindo o ponto de vista de Eunice (a excepcional Fernanda Torres), a matriarca da casa que terá que lidar com o sumisso abrupto do marido e em manter a estabilidade de sua casa. O casal tem cinco filhos. Os instantes iniciais de “Ainda Estou Aqui” são essenciais para tornar o “desaparecimento” de Rubens um impacto emocional gigante para o público. A narrativa acerta ao desenvolver a personalidade amigável, amorosa e cheia de simpatia de Rubens, e Mello está excelente conseguindo através de seu olhar, e sorriso maroto, ganhar a confiança e o carinho do público. Em sua última cena, quando ele está entrando em seu carro junto com os militares, o seu olhar para Eunice é de alguém que já sabe o que vai acontecer, mas ao mesmo tempo está dizendo para a esposa não desistir e continuar firme. É devastador!
Aliás, “Ainda Estou Aqui” é um filme repleto de sutilezas. É uma obra onde cada olhar, cada gesto e cada intenção está dizendo algo sobre aquele momento e os personagens. É o filme que vai colocar o Brasil no Oscar 2025 na disputa pelo prêmio de Melhor Filme Internacional, e que pode render também para Fernanda Torres (tal qual com sua mãe Fernanda Montenegro em “Central do Brasil” de 1998, também dirigido por Walter Salles) uma indicação como Melhor Atriz.
Vamos aguardar os indicados em janeiro, mas “Ainda Estou Aqui” – com ou sem Oscar -, é uma obra tocante, sutil, carregada de coração e emoção. Um filme triste, belo e inesquecível!
Ainda Estou Aqui/BRASIL – 2024
Dirigido por: Walter Salles
Com: Fernanda Torres, Selton Mello, Fernanda Monte