A ideia de fazer um filme live-action da Barbie existe há muitos anos, mas só agora com o roteiro e a direção de Greta Gerwig – do fraco “Lady Bird” e do ótimo “Adoráveis Mulheres” de 2019 – é que o projeto encontrou seu caminho.
A Barbie quebrou paradigmas por ter sido uma boneca que colocava a mulher capaz de fazer, e ser, várias coisas como astronauta, presidente, médica, atleta e outras inúmeras profissões que o brinquedo ganhou com os anos – além de ter a própria casa, o próprio carro e etc. No entanto, ainda assim, a Barbie foi criada e inserida em padrões de beleza extremamente limitadores e machistas que por outro lado valorizavam um único tipo de estilo – além de nunca na vida real as mulheres receberem as mesmas oportunidades de sucesso que em tese a boneca apresentava. Ou seja: enfim a hipocrisia.
Como então fazer um filme da Barbie no mundo atual em um cenário onde os padrões de beleza são constantemente reavaliados, debatidos e grupos mal representados lutam para serem respeitados e reconhecidos? Greta e o seu marido, e também roteirista, Noah Baumbach encontram um caminho genial para tornar a experiência não apenas divertida, engraçada e cheia de referências ao mundo dos brinquedos Barbie, como também abre uma discussão sobre beleza, respeito e valorização de quem você é – independente de como você é -, sem soar superficial – ainda que muita gente radical não irá entender as sutilezas da crítica e ficar cheio de dor de cotovelo.
Tudo em Barbie é caricato e faz parte do humor do projeto, mas Greta e a protagonista Margot Robbie – que interpreta a Barbie estereotipada – encontram humanidade em momentos chaves que tornam a diversão muito mais significativa e profunda. O filme abraça o universo Barbie e brinca com todas as referências que tem direito – como se fosse uma criança mesmo -, mas Greta cria propositalmente o cafona de maneira que agregue peso às suas discussões sobre patriarcado, feminismo e se auto descobrir como ser humano. E utiliza também a metalinguagem como ferramenta chave para a ironia, a autocrítica, e claro, um auto entendimento para discernir suas emoções, para entender que o mundo infelizmente não é justo e o que te define não é um brinquedo, mas sim suas escolhas e o seu amor próprio.
E preciso destacar Ryan Gosling como Ken que sem dúvida rouba a cena em todos os momentos, e também possui um arco dramático que agrega profundidade ao sempre relegado Ken – além do ator ser hilário como a personagem.
“Barbie” pode parecer um filme infantil mas não é. As crianças vão gostar de toda a recriação do mundo de plástico da boneca, e de todo o humor físico presente na trama, porém, “Barbie” é um filme que entrega uma diversão muito mais significativa e interessante que já vale por te fazer debater com outras pessoas. Dentro de suas intenções, “Barbie” é um filmaço e uma grata surpresa este ano!
Barbie/EUA – 2023
Dirigido por: Greta Gerwig
Com: Margot Robbie, Ryan Gosling, Kate McKinnon, Emma Mackey, Simu Liu, America Ferrera, Ariana Greenblatt…
Sinopse: No fabuloso live-action da boneca mais famosa do mundo, acompanhamos o dia a dia em Barbieland – o mundo mágico das Barbies, onde todas as versões da boneca vivem em completa harmonia e suas únicas preocupações são encontrar as melhores roupas para passear com as amigas e curtir intermináveis festas. Porém, uma das bonecas (interpretada por Margot Robbie) começa a perceber que talvez sua vida não seja tão perfeita assim, questionando-se sobre o sentido de sua existência e alarmando suas companheiras. Logo, sua vida no mundo cor-de-rosa começa a mudar e, eventualmente, ela sai de Barbieland. Forçada a viver no mundo real, Barbie precisa lutar com as dificuldades de não ser mais apenas uma boneca – pelo menos ela está acompanhada de seu fiel e amado Ken (Ryan Gosling), que parece cada vez mais fascinado pela vida no novo mundo. Enquanto isso, Barbie tem dificuldades para se ajustar, e precisa enfrentar vários momentos nada coloridos até descobrir que a verdadeira beleza está no interior de cada um.