Crítica: Entrevista com o Vampiro (1ª temporada) – Amazon Prime
Série está disponível para assistir no Amazon Prime Vídeo
O longa-metragem de 1994 estrelado por Tom Cruise e Brad Pitt é um desses queridinhos cults que é frequentemente lembrado com carinho por muitas pessoas. Talvez pela força do livro de Anne Rice e o star power de seu elenco hoje em dia, o filme é lembrado com bons olhos. Particularmente, é uma obra que nunca me encantou e já tentei várias vezes revê-la ao longo dos anos mas não dá certo – é difícil de terminar. Mas, felizmente, em pouco menos de 30 anos depois – já que o show é de 2022 mas está chegando só agora no Brasil – esta nova adaptação em formato de série coloca “Entrevista com o Vasmpiro” no patamar que ele merece. A série não apenas entende, e se aprofunda nos dilemas e anseios do livro de Anne Rice, como toma certas liberdades que melhoram, e muito, a obra original – algo que não acontece no chato filme dos anos 90.
E uma das coisas que a série entende e não tem medo de mostrar é colocar Louis e Lestat como um casal romântico que, de fato, sempre foram. Provavelmente por pressão do estúdio e limitações da época, tanto o filme quanto o livro nunca abraçam 100% este relacionamento – principalmente o filme que se afasta em colocar Tom Cruise e Brad Pitt como um casal gay em cena. Mas a realidade é que para quem conhece a história, ambos os personagens precisam ser um casal gay para fazer a trama ter sentido. É necessário isto para construir a relação de abuso mental e físico entre eles, e ser algo romântico que envolve troca de sentimentos, torna a relação entre ambos muito mais pessoal e caótica do que se eles fossem apenas amigos. É uma história de amor que passa por todos os graus e que torna-se algo opressivo e tóxico com o passar dos anos.
A DUALIDADE DE LOUIS
Colocar o personagem Louis como uma pessoa negra na cidade de Nova Orleans na virada do século 19 para 20 é um detalhe que para alguns pode parecer “lacrador”, mas o show constrói todo um contexto e apresenta razões sociais que tornam o futuro vampiro Louis em um conglomerado de sentimentos que refletem uma época difícil para os negros norte-americanos. Não apenas a cor de sua pele limita muito de seu sucesso e crescimento, mas agora um vampiro, tudo isto o faz alguém ainda mais carregado de dilemas, perdas e solidão. E Jacob Anderson é magistral ao construir um personagem que luta constantemente com sua “humanidade”, e que está a todo instante buscando maneiras de não abraçar o lado violento da natureza vampiresca. Anderson apareceu em “Game of Thrones” mas aqui ele abraça com unhas e dentes a chance de se mostrar um ator estupendo, profundo e capaz de transitar perfeitamente entre o delicado, sutil e inesperado. Uma revelação!
O CHARME E A SAGACIDADE DE LESTAT
Daí temos o personagem Lestat, um vampiro já com quase 200 anos que vive de forma boêmia e não se cansa de aproveitar todas as oportunidades para estar rodeado de pessoas. Um vampiro culto apaixonado por música, ópera, e de todos os prazeres da vida, e que em sua natureza fervorosa, explosiva e sedutora, esconde um sujeito com medo de ficar sozinho em uma vida imortal. Lestat é um personagem cheio de camadas que Tom Cruise encarnou muito bem e cheio de pompa no filme de 1994, mas que aqui é interpretado magistralmente por Sam Reid, em um papel revelação de sua carreira. Reid não é novato na indústria, mas aqui ele abraça um personagem clássico da cultura pop e injeta uma urgência e sagacidade que o tornam ao mesmo tempo ameaçador, imprevisível, mas impossível de não se apaixonar (como aconteceu com o próprio Louis).
A IMPETUOSA E IMPULSIVA CLÁUDIA
E talvez uma das adaptações mais significativas da série seja colocar Cláudia como uma adolescente de 18 anos, e não uma criança que é transformada em vampiro como na obra original. Cláudia ser adolescente a faz não apenas uma personagem carregada das inseguranças e dilemas particulares de todo adolescente, mas ela está constantemente em luta com seus interesses sexuais – afinal, estamos falando de uma época de descobrimento em que os hormônios estão à flor da pele, portanto, isto mesclado com sua nova natureza de vampiro, e sua personalidade teimosa e impulsiva, a Cláudia da série é muito mais interessante e cheia de nuances do que a do livro ou do filme antigo. E Bailey Bass é outra revelação que capta com maestria está impetuosidade da personagem.
DE FATO, SIM, UM JORNALISTA
E como o nome da obra diz, temos aqui uma entrevista com um vampiro, portanto, o papel do jornalista é crucial para a obra não apenas por ele ser o fio condutor da narrativa, como a visão do público expectador que está junto à ele conhecendo aquela história, como aqui na série ele ganha muito mais ironia e contexto. Aquela ironia de uma jornalista já velho que não se impressiona muito mais com o mundo, mas também um sujeito que em seu papel de jornalista, está questionando a história contada e debatendo com seu entrevistado. A atuação de Eric Bogosian é genial e memorável.
AOS FINALMENTES
Com um trabalho de reconstrução de época primoroso e sem receio abraçar a sexualidade de seus personagens, e adentrar nos dilemas pessoais e sociais de cada um deles, “Entrevista com o Vampiro” é um seriado inesquecível que merece ser assistido. A segunda temporada está em exibição nos EUA e ainda não possui data de estreia aqui no Brasil. E apesar de a primeira temporada ter demorado a chegar aqui, nunca é tarde para conhecer está adaptação primorosa que respeita seu material original, mas também o melhora em muitos outros aspectos. Recomendado!
Interview with the Vampire/EUA – 1ª temporada
Onde assistir: AMAZON PRIME
Número de episódios: 07
Com: Jacob Anderson, Sam Reid, Bailey Bass, Eric Bogosian, Assad Zaman…