Crítica: Falcão e o Soldado Invernal – 1ª temporada | Disney+
Com apenas seis episódios, seriado é um projeto empolgante que além de proporcionar diversão, traz reflexão sem vitimismo sobre temas sociais importantes
Filmes ou séries de super-heróis precisam empolgar. Divertir. Proporcionar ali um escape da realidade e nos levar consigo em sua jornada fantástica. Ação e aventura são essenciais, sem dúvida, mas não a única coisa para fazer valer a pena toda a experiência. Outra fator importante em qualquer filme, série, e não menos em obras de super-heróis, é justamente a identificação com a jornada dos personagens. Por isso que aqueles com histórias mais humanas, ou aspectos mais humanos inseridos nela, ressoam com maior impacto no público.
Amo deuses e seres fantásticos, mas amo mais ainda quando consigo me conectar com a “humanidade” de cada um. Falcão e o antes vilão, mas agora herói, Soldado Invernal – ou Sam e Buck para os mais íntimos – são exemplos de personagens que carregam o peso da vida e da crueza do mundo em suas trajetórias. Antes eram apenas ferramentas de impulso para o desenvolvimento da história de Steve Rogers (a.k.a Capitão América), mas agora, ambos possuem maior tempo e oportunidade de criar e estabelecer conexões emocionais com a plateia.
Sei que “Wandavision” possui muitos admiradores e acredito ser uma série ousada por seguir um caminho completamente diferente do que se esperar de um material de super-herói. Mas, confesso que da metade para o final o show perdeu muitos pontos comigo e não sou fã do desfecho infantil e boboca com as bruxas e revelações desperdiçadas como a do Mercúrio, ou personagens incríveis como a Agatha mas que estava ali somente para ser introduzida ao universo, e por ai vai (minha opinião, ressalto).
“Falcão e o Soldado Invernal” pode não possuir a ousadia estrutural de “Wandavision”, pelo contrário, a obra entrega os elementos padrões de filmes de super-herói. No entanto, por outro lado, ela alcança um resultado emocional superior ao da série estrelada por Elizabeth Olsen e Paul Bettany. O enredo explora nuances do MCU nunca antes exploradas, e não tem receio em apontar o conceito político racista por detrás da ideologia do Capitão América.
Não que Steve Rogers seja racista, nada disso, mas a imagem do Capitão América foi criada pelo governo norte-americano (dentro do mundo da Marvel) como propagação do famigerado, e bestial “sonho americano”, e para colocar os EUA como a supremacia indômita do mundo . O fato de ter existido um super soldado, negro, antes de Steve Rogers e este não ter recebido o mesmo reconhecimento e afago por causa de sua cor, é um tema delicado que poderia ter se voltado contra a própria Marvel. Felizmente, aqui o assunto é tão bem trabalhado dentro do roteiro que temos uma discussão social, e racial, válida e pertinente para o nosso momento atual. Além de pincelar outros temas identificáveis como dificuldades financeiras, família, etc.
Mas acima de tudo isso projetos de super-herói devem ser divertidos e empolgantes, afinal, é fantasia, é impossível e é lúdico. Também neste quesito, “Falcão e o Soldado Invernal” entrega diversão, tensão e ótimas cenas de ação – todas com aquele estilo urbano, visceral e extasiante introduzido pelos irmãos Russo no filme “Capitão América – O Soldado Invernal”.
Anthony Mackie e Sebastian Stan reforçam mais ainda a ótima química já vista em projetos passados. Mas não apenas a dupla está excelente, como os personagens paralelos roubam também o show. Daniel Brühl já foi para mim um ótimo vilão em “Guerra Civil”, com motivações humanas convincentes e impactantes, e aqui o ator é usado como auxiliar dos protagonistas mas sem perder a imprevisibilidade – e deve ser usado mais vezes no futuro (é o novo Loki do Universo Marvel).
Wyatt Russell como o novo Capitão América é uma força da natureza. O ator brilha e alcança o objetivo do personagem em causar fúria, discussão e um olhar clínico acerca do simbolismo do herói.
O grande revés do seriado talvez seja a investida em personagens desinteressantes e desnecessários que são encaixados forçadamente apenas porque são personagens já presentes no universo dos filmes (Sharon Carter, estou falando com você!).
Mas o saldo final de “Falcão e o Soldado Invernal” é extremamente positivo. Um seriado que entrega além da proposta básica de um show de super-herói, e nos deixa fixados no sofá ansiosos pelo próximo capítulo. Disponível no Disney+.
Falcon and the Winter Soldier/EUA – 2021
Com: Anthony Mackie, Sebastian Stan, Wyatt Russell, Erin Kellyman, Daniel Brühl…
Total de episódios: 06