Crítica: Jogos Vorazes – A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes (2023)
Longa-metragem é adaptado do livro homônimo lançado em 2020
Ali na virada de 2010 para a nova década tivemos uma explosão de filmes inspirados em livros que ganharam a classificação de “para jovens adultos”. E em meio às diversas obras literárias, e cinematográficas, deste “gênero” podemos dizer que “Jogos Vorazes” se destacou como uma das mais interessantes do pacote. A autora dos livros, Suzanne Collins, criou uma obra que têm algo para dizer e refletir sobre a mídia, a sociedade e o poder político intrínseco nela, e como ele não apenas corrompe, mas no fim, só mostra como o mundo é cíclico e o ser humano dificilmente muda. E os filmes conseguiram manter esta fidelidade analítica e entregar uma ótima adaptação.
Oito anos após o lançamento do último filme da saga de Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) em “Jogos Vorazes – A Esperança O Final”, temos o retorno do diretor Francis Lawrence na adaptação desta história que se passa mais de 60 anos antes do primeiro “Jogos Vorazes” e acompanha um jovem Coriolanus Snow (Tom Blyth) em sua trajetória para encontrar seu lugar na Capital, até que o levar da carruagem o aproxima de um tributo do distrito 12 chamada Lucy Gray Baird (Rachel Zegler) que mexe bastante com o seu coração.
“Jogos Vorazes – A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” é adaptado do livro homônimo lançado em 2020 e também escrito por Suzanne Collins. E com o retorno de Lawrence na função de diretor, temos uma fidelidade de visual e sintonia de tom com os longas anteriores mesmo a trama se passando 64 anos antes e a Capital ainda não ter chegado naquele patamar de ostentação e exageros vistos nos quatro filmes de “Jogos Vorazes”.
O longa é uma obra eficaz e entrega vários momentos eficientes que desenvolvem melhor aquele mundo que depois alcançaria mais ainda sua “glória”. No entanto, ao menos para mim, acredito que a história poderia ter seguido caminhos mais interessantes com relação ao nosso protagonista Snow. Ainda que aqui ele esteja jovem e em início de carreira, a trama abraça essencialmente o romance e perde o foco no aspecto político daquele mundo (ainda que ele esteja presente). Mas no fim, é a história de uma homem que sofre uma decepção amorosa e termina decidido a trilhar um caminho sem distrações. Mas o roteiro pouco se aprofunda com afinco nos interesses políticos de Snow, e o terceiro ato soa como um alongamento cansativo da história.
Já sabemos como Coriolanos Snow será no futuro, mas aqui neste filme temos poucos traços desta personalidade sagaz e ambiciosa. Entendo que a história se passa antes e somos imaturos no começo, mas por se tratar de um filme que acompanha a juventude de um personagem que já conhecemos seu futuro, ter esta construção seria agregador e importante (provavelmente estão guardando para possíveis continuações). Enquanto isto, personagens ótimos e misteriosos como Dra. Volumnia Gaul de Viola Davis, e Dean Casca Highbottom de Peter Dinklage, poderiam aumentar mais ainda a tensão neste jogo de poder mas são pouco aprofundados e ganham peso unicamente pela fama de seus intérpretes. O sistema é o vilão aqui mas toda possível tensão, e ameaças, são amenizadas pela história de amor.
No frigir dos ovos, “A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” está longe de ser ruim e vale a pena assistir. É um filme que não mancha a qualidade da franquia e continua acima da média da maioria destas adaptações para jovens adultos. Ainda que não goste dos rumos da história citados acima (que são provenientes do livro), o longa é uma obra que ganha força com o ótimo elenco e a direção segura de Francis Lawrence.
The Hunger Game: The Ballad of Songbirds and Snakes/EUA – 2023
Dirigido por: Francis Lawrence
Com: Tom Blyth, Rachel Zegler, Viola Davis, Peter Dinklage…
Sinopse: Antes de Katniss Everdeen, sua revolução e o envolvimento do 13 distrito, houve o Presidente Snow, ou melhor, Coriolanus Snow. A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes é a história do ditador de Panem antes de chegar ao poder. Anos antes, Coriolanus Snow vivia na capital, nascido na grande casa de Snow, que não anda muito bem em popularidade e financeiramente. Ele se prepara para sua oportunidade de glória como um mentor dos Jogos. O destino de sua Casa depende da pequena chance de Coriolanus ser capaz de encantar, enganar e manipular seus colegas para conseguir mentorar o tributo vencedor. Foi lhe dado a tarefa humilhante de mentorar a garota tributo do Distrito 12. Os destinos dos dois estão agora interligados – toda escolha que Coriolanus fizer terá consequências dentro e fora do Jogo. Na arena, a batalha será mortal e a garota terá que sobreviver a cada segundo. Fora da arena, Coriolanus começa a se apegar a garota, mas terá que ter que qualquer passo que der, fará com que a menina e ele mesmo sofram de alguma maneira.