Crítica: ‘O Homem dos Sonhos’ (2023) com Nicolas Cage
Longa-metragem foi produzido pela A24
“O Homem dos Sonhos”, dirigido e escrito por Kristoffer Borgli para a A24 e estrelado por Nicolas Cage, conta a história de Paul Matthews (Cage), um pai de família e professor universitário pacato e sempre passivo diante da vida que inexplicavelmente começa a aparecer nos sonhos de milhares de pessoas ao redor do mundo. Tal fenômeno o torna uma pessoa famosa e midiática lhe abrindo possibilidades ótimas para a carreira e a vida pessoal, mas também consequências fora de seu controle.
Não quero falar muito sobre a história de “O Homem dos Sonhos” pois é um filme para ser “degustado”, apreciado com calma e sem pressa. O longa é um dos mais criativos projetos sobre cultura do cancelamento já feitos até hoje. O roteiro de Borgli mostra a volatilidade da nossa cultura midiática atual onde desconhecidos tornam-se celebridades instantâneas, e a grande maioria não possui estrutura emocional para lidar com o peso do estrelato. Ao mesmo tempo, temos casos de pessoas que se tornam conhecidas por acusações sem nenhum tipo de checagem e logo acusadas e condenadas pelo tribunal da internet, resultando na destruição de sua imagem diante do mundo e consequentemente trazendo consequências pessoais gravíssimas.
Em determinado momento do filme, Matthews explica para sua turma o motivo das listras de uma zebra. Ele diz que as listras ajudam na camuflagem do animal quando eles estão em rebanho, pois assim a zebra fica imperceptível e confunde o predador. Já quando está sozinha, as listras chamam atenção e ela se torna um alvo fácil. A história é claramente uma analogia com o próprio Matthews, que antes se misturava com os demais em uma vida pacata e sem muitos atrativos, mas depois que começa a ser reconhecido pelas pessoas torna-se um alvo fácil da opinião alheia, e consequentemente sua vida torna-se resultado da percepção do público – seja para o lado positivo ou negativo.
Da metade para o final, “O Homem dos Sonhos” vira um filme angustiante e desesperador. Como expectadores de fora, sabemos que todas as acusações contra Matthews são mentiras, e ele, de fato, não fez nada de errado. Mas o público na trama aceitou os sonhos como realidade e através das redes sociais passaram a condenar um inocente sem nenhuma oportunidade de réplica. A trama não deixa de usar os sonhos como analogia ao que a mídia de hoje aceita como real ou não, e em muitos casos o “achismo” torna-se a “verdade absoluta”.
Daí temos Nicolas Cage em uma atuação primorosa e recheada de camadas e detalhes. Não vou dizer que é a sua melhor atuação em muito tempo pois em 2021 ele lançou “Pig” que é soberbo, mas aqui temos um Cage carregando o peso de um sujeito que só queria continuar sua vida e receber mais reconhecimento profissionalmente, e tal reconhecimento apareceu como avalanche – e não por causa de seus feitos – e com consequências desastrosas.
“O Homem dos Sonhos” não é um filme perfeito e acredito que a história poderia ter ousado mais nos sonhos e explorado mais afundo as consequências positivas do sucesso antes de entrar totalmente na derrocada, mas ainda assim, o longa é sublime, original, tenso, envolvente e um dos melhores filmes de 2023 (e que só chegou aos cinemas brasileiros em 2024). Outro filmaço da A24 que precisa ser visto, debatido e compartilhado!
Dream Scenario/EUA – 2023
Dirigido: Kristoffer Borgli
Com: Nicolas Cage, Julianne Nicholson, Lily Bird, Jessica Clement…
Sinopse: O Homem dos Sonhos é um filme de comédia que acompanha Paul Matthews (Nicolas Cage), um pai de família infeliz que, misteriosamente, começa a ser visto por milhões de estranhos em seus sonhos. Porém, uma hora, as aparições começam a se transformar em um grande pesadelo, e Paul deverá enfrentar as consequências de seu inesperado estrelato.