Crítica: Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejucie Beetlejuice (2024)
Longa-metragem foi dirigido por Tim Burton, mesmo diretor do original de 1988
“Os Fantasmas Se Divertem” de 1988 foi o filme responsável por colocar Tim Burton no mapa, e apresentar ao mundo toda sua criatividade visual e estilo sombrio cômico que se tornariam parte integral de sua carreira. Nos últimos anos, Burton estava em uma fase morna sem grandes sucessos comerciais ou de crítica. Seu último excelente projeto, em minha opinião, continua sendo “Sweeney Todd” de 2007, mas desde então, o diretor vem em um trajeto irregular entre filmes apenas bons e outros medianos. A série “Wandinha” resgatou um pouco desta empolgação de Burton como diretor, e que agora culmina em sua revisita ao clássico de 1988 com esta continuação lançada 36 anos depois.
“Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice”, como todas as continuações de clássicos lançadas nos últimos anos, abraça a nostalgia para contar sua história. No caso deste filme, é a nostalgia responsável por chamar nossa atenção e nos deixar presos, e envolvidos, com o desenrolar da trama. Pegar cada easter egg do primeiro filme e conhecer outros lugares do mundo dos mortos é deixar Burton super à vontade para mergulhar de cabeça no estranho, e misturá-lo com o humor irreverente tão presente no original. Optar também em manter a identidade visual com o uso de efeitos especiais práticos como bonecos, stop-motion e etc, é outro ponto magistral do filme que nos deixa ainda mais entretidos e empolgados.
Mas se por um lado a nostalgia é bacana e o visual se mantém genial, “Os Fantasmas Ainda Se Divertem” carece de melhor estrutura narrativa e um objetivo mais focado, e não tão disperso. O longa original possuí uma história simples, porém, coesa na construção das regras de seu mundo fantástico, e também no objetivo de cada personagem. Já neste novo filme, o roteiro perde muito tempo explorando personagens em excesso para depois resolver cada problema de maneira apressada e nada empolgante. A vilã principal, por exemplo, interpretada por Monica Belluci, está visualmente perfeita (uma mistura de Mortícia e A Noiva Cadáver), mas sua personagem não entrega o que estava sendo construído e prometido desde o começo. Ela fica indo de um lado para o outro perguntando “onde está Beetlejuice?” e quando chegamos no clímax, o embate entre ambos é pateticamente anti-climático (assim como toda a sequência na igreja é bastante mal inspirada e com uma esolha de música péssima que passa longe de ser memorável como “Banana Boat” foi no primeiro longa).
A mesma coisa vale também para o primeiro ato que perde tempo demais com dramas e um romance adolescente (que também é resolvido rapidamente pelo roteiro e não leva a lugar algum), e a história demora muito a colocar os humanos no mundo dos mortos e dar início ao que realmente interessa. Diferente do filme original, onde não temos gordura alguma na história, este novo filme entrega um primeiro ato longo, repetitivo e, confesso, chato de acompanhar. Quando o filme vai para o mundo dos mortos a coisa ganha força e ritmo, mas quando volta ao mundo real as engrenagens travam.
Grandes atores como a já mencionada Monica Belluci e Willem Dafoe são desperdiçados e estão ali apenas pelo visual maneiro de seus personagens, enquanto Winona Ryder virou sua mãe preocupada de “Stranger Things” e Jenna Ortega entrega uma Wandinha com menos personalidade. Justin Theroux é o malandro clichê que é também usado de qualquer maneira, e até a hilária Catherine O’Hara tenta, mas quando vai para o mundo dos mortos perde totalmente o brilho. A força motriz que faz tudo realmente funcionar é Michael Keaton e seu anárquico Beetlejuice – ele é usado na medida certa dentro de uma história mais preocupada com o visual.
Infelizmente, “Os Fantasmas Ainda Se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice” não funcionou tanto para mim. Amo demais o longa original e a parte nostálgica e visual desta continuação me conquistaram completamente, porém, infelizmente, diferente de seu antecessor, temos aqui um roteiro inflado, arrastado e que não entrega o clímax que tanto promete – além de desperdiçar ótimos personagens. Não tenho dúvidas de que Tim Burton se divertiu pra caramba fazendo o filme, mas, ao menos para mim, é uma aventura esquecível e pouco envolvente.
Beetlejuice Beetlejuice/EUA – 2024
Dirigido por: Tim Burton
Com: Michael Keaton, Winona Ryder, Jenna Ortega, Catherine O’Hara, Monica Belluci, Willem Dafoe, Justin Theroux…