Crítica: Procurando Dory (2016) | Especial Pixar
Longa-metragem foi dirigido por Andrew Stanton, diretor do original
Sou desses que cresceu assistindo “Procurando Nemo” e que sabe cada fala decorada. Me lembro de quando ganhei do meu pai, de presente de aniversário, a fita VHS do longa e passei semanas naquela empolgação assistindo sem parar quando voltava da escola. E se com o tempo a ansiedade de assistir ao mesmo filme seguidamente diminuía, sua importância e impacto permanecem intactos até hoje em minha vida. “Procurando Nemo” é uma história de amor, de família, sobre como vencer as dificuldades e ser feliz sendo quem você é. É um filme que fala sobre obediência, o peso das nossas palavras, humildade e, principalmente, crescer.
Com um dos começos mais tristes da história da Pixar, “Procurando Nemo” mostra a luta de um pai para encontrar o filho que foi levado por mergulhadores. Forçado a passar por situações que ele mesmo não gostaria de passar, a história mostra o aprendizado do filho Nemo, mas é Marlin, seu pai, quem mais aprende. Dirigido por Andrew Stanton com um equilíbrio narrativo exemplar, e um domínio cômico e dramático memoráveis, o filme tornou-se um clássico instantâneo que sobrevive ao tempo indelevelmente.
Fora “Toy Story” a Pixar não era muito de continuações. Mas após a compra do estúdio pela Disney, esta política mudou radicalmente e continuações de filmes improváveis como “Monstros S.A” e o próprio “Procurando Nemo” entraram em pauta nas reuniões da empresa. Treze anos após o lançamento do original foi lançado este “Procurando Dory”, que possui graça e alguns momentos sutilmente emocionantes, mas é um filme que desvia da sutileza e equilíbrio narrativo apresentados no antecessor, e que prioriza mais a comédia e o exagero da história dentro de um universo que não compartilhava tais características.
Se em “Procurando Nemo” os acontecimentos eram consequência das escolhas de seus personagens, e a maneira como eles resolviam os problemas partia de um raciocínio lógico, “humano” e plausível dentro daquele universo proposto, em “Procurando Dory” tudo é conveniente com respostas fáceis que surgem abruptamente do nada, e uma trama que investe bastante no exagero colocando os animais para dirigir caminhão, carrinho de bebe em lugares lotados, etc. Mas aí você me contesta: “mas Matt, é um desenho, estas coisas podem!”, sim, claro que podem, mas neste mundo que me foi apresentado em “Procurando Nemo”, mesmo com as liberdades fantasiosas possibilitadas por uma animação, a história tinha uma ambientação mais crível, mais sutil, sem abusar dos exageros e um objetivo intimista com a intenção de levar adiante as reflexões sobre cada personagem.
“Procurando Dory” começa maravilhosamente bem, une o passado de Dory até o momento em que ela encontra Marlin em “Procurando Nemo”. Aliás, Andrew Stanton, que retorna ao posto de diretor, cria uma atmosfera tocante com relação a história da nossa protagonista desmemoriada. O encontro com os pais, a maneira como ela se perde deles e sai vagando pelo oceano sozinha, todos estes momentos são sutilmente emocionantes. O problema começa quando tudo isso é interrompido pelas hipérboles narrativas, além de novos personagens coadjuvantes que, ao menos para mim, carecem de carisma e não são marcantes como os do filme original.
Finding Dory/EUA – 2016
Dirigido por: Andrew Stanton
Vozes no original: Ellen Degeneres, Albert Brooks, Ed O´Neill
Sinopse: Um ano após ajudar Marlin (Albert Brooks) a reencontrar seu filho Nemo, Dory (Ellen DeGeneres) tem um insight e lembra de sua amada família. Com saudades, ela decide fazer de tudo para reencontrá-los e na desenfreada busca esbarra com amigos do passado e vai parar nas perigosas mãos de humanos.