Crítica: Wonka (2023)
Longa-metragem mostra um jovem Willy Wonka na busca para se tornar o maior chocolateiro do mundo
“A Fantástica Fábrica de Chocolate” é um livro que foi escrito por Road Dahl e lançado originalmente em 1964. A obra ganhou duas adaptações para o cinema: uma fraquíssima com Gene Wilder em 1971, e que muita gente elogia por causa da memória afetiva da infância; e outra bem mais fiel à essência do livro e infinitamente superior lançada em 2005 com Johnny Depp e dirigida por Tim Burton. Independente das adaptações, ambas tinham como base o texto sagaz e irônico de Dahl que utiliza a fantasia para contar uma história sobre adultos estragados por dentro, e como eles são os culpados por estragarem suas crianças.
Este “Wonka” do diretor Paul King é uma ideia totalmente original, e quando digo original deve-se ao fato de não possuir nenhum livro de Dahl como base para sua concepção. King re-imagina um Willy Wonka jovem chegando na cidade grande e aspirando se tornar um chocolateiro bem sucedido. E como já havia feito nos dois ótimos filmes de “Paddington”, King cria uma obra totalmente acalentadora, colorida e com aquela ambientação fantástica que até combina com as ideias loucas de Dahl, e já nos faz aceitar que tudo ali é irreal, e portanto, possível.
Mas por se tratar de um filme sobre a origem de um personagem tão icônico – tanto no livro quanto no cinema -, o Wonka de Timothée Chalamet é um figura sempre positiva e animada o tempo todo, e não passa, necessariamente, por uma mudança significativa ao longo do filme. Não existe um drama forte do personagem, e é difícil imaginá-lo se tornando o Wonka indiferente e irônico do livro. Tudo bem que o personagem é jovem e muita coisa pode acontecer até lá, mas por ser um filme de origem soa como um desperdício não mostrar esta jornada transformadora do chocolateiro. Em minha opinião, Tim Burton fez um background muito mais interessante em seu filme de 2005, onde não apenas criou uma infância difícil entre Wonka e seu pai, como também retira partes do livro para mostrar em tela alguns momentos da genialidade de Wonka antes de ele ter se fechado para o mundo. Até mesmo o encontro entre o personagem e os Oompa Loompas é muito mais divertido na imaginação soturna de Burton.
“Wonka” também é um musical estranho. Ao mesmo tempo em que gosto de toda a caricatura que é o filme, pois combina com o material original, as músicas não são empolgantes e logo somem da nossa mente pois parecem todas iguais – assim como as coreografias também pouco imaginativas. O único momento que mexe no coração é justamente o final quando eles usam a música “Pure Imagination”, do longa de 1971, e que é realmente magistral, para encerrar o filme. Mas fora isso, as canções originais não encantam ou empolgam. E digo mais: as quatro músicas cantadas pelos Oompa-Loompas no filme de 2005 com Johnny Depp são muito melhores, mais memoráveis e com mais personalidade do que as deste filme.
Enfim, “Wonka” é uma produção que me deixou conflituoso. O elenco é bastante competente (apesar de ter achado que Rowan Atkinson, nosso eterno Mr. Bean, foi completamente mal aproveitado no longa), a direção de arte e figurinos são ótimos, e toda a concepção de mundo do diretor Paul King combina bastante com a imaginação de Road Dahl. Mas na entrega da emoção e da musicalidade “Wonka” é fraco, e por fim, esquecível. Infelizmente.
Wonka/REINO UNIDO, EUA – 2023
Dirigido por: Paul King
Com: Timothéé Chalamet, Olivia Colman, Jim Carter, Rowan Atkinson, Sally Hawkins, Keegan Michael-Key, Matt Lucas…
Sinopse: Wonka é uma comédia musical baseada no clássico livro A Fantástica Fábrica de Chocolate, do autor britânico Roald Dahl. O filme mostra as origens da história do jovem Willy Wonka (interpretado por Timothée Chalamet), que apareceu nos cinemas pela primeira vez na produção de 1971 e, mais tarde, ganhou um remake estrelado por Johnny Depp em 2005. Antes de se tornar a mente brilhante por trás da maior fábrica de chocolate do mundo, Willy precisou enfrentar vários obstáculos. Cheio de ideias e determinado a mudar o mundo, o jovem Wonka embarca em uma aventura para espalhar alegria através de seu delecioso chocolate. Nela, ele acabou conhecendo o seu fiel e icônico assistente, Oompa Loompa (interpretado por Hugh Grant), que o ajudar a ir contra todas as probabilidades para se tornar o maior chocolatier já visto. Mostrando que as melhores coisas da vida começam com um sonho, o filme mistura magia, música, caos, afeição e muito humor.