Crítica: Zona de Interesse (2023)
Longa-metragem foi indicado a 5 Oscars
A mãe com seu bebê passeia pelo jardim e cheira uma rosa. A família se reúne para aproveitar a piscina em um dia de sol. Este e outros corriqueiros momentos compõem o dia a dia de uma família alemã em sua casa bem cuidada e espaçosa. Já aos fundos, escutamos gritos, tiros, e durante a noite, uma fumaça enorme saindo da chaminé no campo de concentração localizado bem ao lado. É um crematório. E o cheiro deixado no ar também não é dos melhores.
“Zona de Interesse” é um filme sobre holocausto que não mostra absolutamente nada do que acontece dentro do campo de concentração de Auschwitz, mas que consegue ser da mesma maneira impactante, e monstruosamente angustiante. Aqui, acompanhamos a vida idílica da família do comandante do campo, que mora nesta casa bem estruturada localizada ao lado do local onde centenas de judeus são mortos e torturados diariamente.
A grande sacada de “Zona de Interesse” é justamente ousar em mudar a perspectiva de uma história sobre holocausto, e utilizar o conhecimento do público dos fatos para preencher as lacunas do que estamos assistindo. Ao saber do que está acontecendo, e não mostrar, o corriqueiro torna-se ainda mais assustador e incômodo. E o mais desconcertante é presenciar que todas estas atrocidades ocorridas na vizinhança não afeta em nada quem mora na casa. É a banalidade do mal em sua plena forma, e portanto, ainda mais monstruosa e desumana.
O diretor Johnathan Glazer filma “Zona de Interesse” com a câmera frequentemente aberta, nos colocando como testemunhas – e até hóspedes – desta família. Tudo dentro do enquadramento é essencial e importante para a história, afinal, é justamente o trabalho de som e a composição de cena que tornam o longa significativo e importante. Preste bem atenção nos sons e no que está sendo mostrado ao fundo!
“Zona de Interesse” é um desses filmes que para quem não entender sua proposta, vai ser classificado como chato e lento. Mas aqui, a lentidão serve justamente para amplificar o terror da realidade, e mostrar a facilidade com que os nazistas matavam pessoas inocentes e viviam suas vidas como se aquilo fosse parte normal da humanidade.
The Zone of Interest/REINO UNIDO, POLÔNIA
Dirigido por: Jonathan Glazer
Com: Christian Friedel, Sandra Hüller, Lilli Falk
Zona de Interesse, longa-metragem britânico dirigido pelo cineasta Jonathan Glazer, é um drama histórico que se passa durante a Segunda Guerra Mundial. Adaptado do romance homônimo escrito pelo autor Martin Amis, no ano de 2014, em Zona de Interesse, Rudolf Höss (Christian Friedel), o comandante de Auschwitz, e sua esposa Hedwig (Sandra Hüller), desfrutam de uma vida aparentemente comum e bucólica, em uma casa com jardim. Mas, por trás da fachada de tranquilidade, a família feliz vive, na verdade, ao lado do campo de concentração de Auschwitz. O dia-a dia destes personagens se desenrola entre os gritos abafados de desespero, de um genocídio em curso, do qual, eles também são diretamente responsáveis. O longa ficcional, premiado em Cannes e indicado ao Oscar em cinco categorias, entre elas a de Melhor Filme, mistura drama, guerra e história, abordando o horror do nazismo, a partir de uma perspectiva singular e perturbadora.