O Grande Ditador (1940) | Relembrando Clássicos
Longa-metragem é estrelado, dirigido, escrito e produzido por Charlie Chaplin
Charlie Chaplin sempre gostou de falar sobre temas sociais em seus filmes, mas inseridos dentro de um contexto cômico, onde através do seu personagem O Vagabundo, ele conseguia mesclar crítica social e romance em um contexto onde a humanidade era também um importante personagem. Seja sobre a obsessão por riquezas em “Em Busca do Ouro” ou sobre a Revolução Industrial em “Tempos Modernos”, o social sempre esteve presente de alguma maneira em suas histórias.
E daí chegamos em “O Grande Ditador”, que talvez seja o mais pessoal, crítico e incisivo filme de toda a carreira de Chaplin. Lançado em 1940 nos primórdios da Segunda Guerra Mundial, onde o nazismo ganhava cada vez mais força na Europa, aqui Chaplin cria uma história dividida em dois núcleos narrativos: no primeiro, acompanhamos um barbeiro judeu que retorna da Primeira Guerra Mundial com amnésia para descobrir que o gueto onde mora, em um país fictício chamado Tomânia, os judeus estão sendo perseguidos e seus negócios fechados com violência absoluta. O segundo núcleo acompanhamos o próprio ditador do país, um sujeito chamado Adenoid Hynkel (a.k.a Adolf Hitler), que possui pretensões grandes de se tornar o imperador do mundo e fixar seu poder sobre todos.
Com bastante ironia, Chaplin não segura a mão para mostrar Adenoid Hynkel como um ser humano estúpido, dependente emocional de bajulação e que a todo instante precisa se colocar acima dos demais para se sentir importante. As cenas dele com Benzino Napaloni (Jackie Oakie), ditador de outro país chamado Bactéria (referência à Itália de Benito Mussolini), são sempre uma disputa hilária e ridícula sobre quem fala mais alto, se impõe mais e quem está acima do outro. Uma constante luta por poder e quem é o mais poderoso. Nisto, Chaplin mostra não apenas o egocentrismo de tais líderes, como também mostra que suas intenções nunca são à favor de seu povo, e sim, para eles mesmos. A sequência com Hynkel, sozinho em seu escritório, dançando de um lado para o outro com o globo terrestre, é um desses momentos singulares da história do cinema e que nos mostra como tais líderes brincam com o mundo, de um lado para o outro, em favor de seus próprios interesses até que tudo exploda e chegue ao fim.
Temos também outra cena magistral onde Hynkel recebe a notificação de que cinco líderes de greve foram assassinados após incitarem a paralisação do trabalho em uma fábrica de armas, e ele reclama de que todos eram morenos e não loiros de olhos azuis, no entanto, o próprio Hynkel não é nem loiro, e nem tem olhos azuis. Enfim, a hipocrisia!
Lançado onze após o surgimento do cinema falado, Chaplin era um relutante em abraçar a fala em seus filmes. Cria da era muda, ele fez seu nome com a fisicalidade e achava que o som tirava a graça de seu trabalho. “O Grande Ditador” é o primeiro filme todo falado e com efeitos sonoros realizado por Chaplin, e nada mais oportuno do que estrear lidando com uma história onde a voz é peça fundamental. O discurso de Hynkel no começo do filme é um desses momentos geniais da comédia física e verborrágica, ao mesmo tempo em que temos no final do longa o discurso humanitário de Chaplin para o mundo em um apelo fervoroso por empatia e respeito ao próximo. Como o próprio Chaplin diz no discurso, sua voz está alcançando milhares de pessoas naquele momento, e portanto, ele deixa claro a necessidade de nos aproximarmos como seres humanos e não deixar o ódio dominar nossos corações. Um discurso que se mantém atual e tão poderoso como o foi naquela época.
Financiado totalmente pelo próprio Chaplin e o filme que se tornou o seu maior sucesso comercial da carreira, “O Grande Ditador” é uma das sátiras mais geniais e memoráveis já feitas sobre a guerra. Infelizmente, Chaplin não investiu tanto em sua carreira na era falada do cinema, mas que bom que ao menos ele nos presenteou com um filme que tem muito a dizer sobre o quão patético são as guerras e seus responsáveis. Filmaço!
The Great Dictator/EUA – 1940
Dirigido por: Charlie Chaplin
Com: Charlie Chaplin, Paulette Goddard, Jack Oakie, Reginald Gardiner, Henry Daniell…