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89% das mortes por Covid-19 no Brasil são de pessoas sem terceira dose da vacina

Óbitos concentram-se em pacientes acima de 60 anos

(Foto: Jucimar de Sousa - Mais Goiás)

Nos 20 primeiros dias de setembro, 1.540 brasileiros perderam a vida em decorrência da Covid-19, mostram os dados do consórcio dos veículos de imprensa. Embora o número inspire preocupação, a mesma marca de óbitos foi atingida em apenas 24 horas no início de março de 2021. Ou seja, em apenas um dia morreu o mesmo número de pessoas que, nesta altura da pandemia, perderam a vida ao longo de quase um mês. Trata-se, evidentemente, do impacto causado pela marca de mais de 103,7 milhões de brasileiros vacinados com três doses.

E se, antes, a doença era mais abrangente, apresentando risco de agravamento para a população em geral — diante do alto índice de infecções que aumentavam exponencialmente as mortes —, hoje os óbitos concentram-se em grupos específicos: as pessoas com idade acima de 60 anos, os pacientes com doenças crônicas ou imunossuprimidos, e os que não concluíram o esquema vacinal.

De acordo com levantamento realizado a pedido do GLOBO pelo Info Tracker, grupo que reúne pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade de São Paulo (USP) para monitoramento da Covid-19, nove em cada dez pessoas que morreram entre março e setembro pelo vírus não tinham tomado, neste ano, a terceira dose de alguma das vacinas disponíveis no Brasil. A mesma análise estende a lupa sobre as pessoas com comorbidades. Essas correspondem a 79,46% das mortes por infecções por coronavírus nos mesmos seis meses. A idade superior a 60 anos era uma característica presente em 83% das vítimas letais por Covid-19, de acordo com o mesmo estudo.

—Os dados mostram a importância de manter o esquema vacinal atualizado. A pesquisa também indica que precisaremos imunizar as pessoas periodicamente — diz o professor Wallace Casaca, um dos coordenadores do grupo Info Tracker. — A pandemia voltou a apresentar uma característica detectada em seu surgimento: a centralização da letalidade em grupos específicos.

Bruno Scarpellini, médico infectologista e professor da PUC-Rio explica que, atualmente, com a circulação da variante Ômicron e suas correlatas, o esquema basal para proteção do coronavírus se dá com três doses — ou duas, quando iniciado com a vacina da Janssen.

— Há coisas que não podemos mudar nos fatores de risco para a Covid-19, a idade é um deles. Mas o paciente pode, sim, buscar a vacinação e manter doenças crônicas controladas, o que colabora com o quadro de saúde diante do coronavírus— diz o especialista.

Face da letalidade

O GLOBO questionou todos os estados e capitais sobre qual a face da letalidade da Covid-19 neste mês de setembro, dois anos e meio após o primeiro caso aparecer no país. Em São Paulo, por exemplo, 66% das mortes ocorreram no grupo com idade acima de 60 anos. Do total, 25% tinham doenças graves relacionadas. No estado do Rio, foram 25 óbitos por Covid-19 ao longo do mês de setembro. Deste total, 20 tinham fator de risco ou comorbidades envolvidos no quadro clínico. A maioria, quinze indivíduos, tinha idade superior a 60 anos.

No Maranhão, foram duas mortes ao longo do mesmo período. Um deles foi o de um homem de 71 anos e o outro de uma mulher de 53. O homem tinha uma dose de vacina e sofria de hipertensão. A mulher tinha recebido o esquema com duas aplicações, mas passava por tratamento oncológico e tinha hipertensão.

Em Santa Catarina, as mortes chegaram a 30 registros neste mês. Metade dos pacientes letais estavam com idade acima de 80 anos e 87% do total não haviam realizado o esquema vacinal completo. E em Mato Grosso, ocorreu um único registro de morte, de um homem de 75 anos.

Internações

O arrefecimento da pandemia — e a centralização das mortes em um grupo específico — também pode ser percebido em outras frentes. O médico infectologista David Uip, à frente da Secretaria Extraordinária de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde do estado de São Paulo, explica que, atualmente, é também mais rara a necessidade de entubar e internar pacientes em decorrência da Covid-19.

— A variante Ômicron causa uma doença diferente. Em outros momentos da pandemia, os pacientes começavam a se complicar antes do sétimo dia de infecção, com uma síndrome inflamatória. A Covid-19, agora, dura de sete a dez dias e sua complicação acontece por uma infecção bacteriana, normalmente pneumonia ou sinusite — avalia o médico que atesta a redução drástica dos casos graves causados pelo coronavírus em seus atendimentos.

A intensivista Juçara Maccari, gerente médica do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre (RS), diz que é necessária atenção redobrada no caso dos imunossuprimidos e dos pacientes oncológicos, nos quais a vacina não tem a performance esperada e a recuperação da doença se faz de maneira mais lenta e dificultada.

— A primeira estratégia de proteção sempre será a vacinação em massa, mesmo de pessoas saudáveis. Pois a vacina ajuda a reduzir a disseminação do vírus na comunidade — explica. — Além disso, para os familiares e contatos de pessoas que passam por quadros mais delicados de saúde, a máscara de proteção segue como um artigo fundamental para a prevenção.