Abstenções: 55% dos que faltaram estudaram até o Ensino Fundamental
Taxa de ausência nas urnas prejudicou Lula nas urnas, que tem 62% das intenções de voto nesse segmento do eleitorado
Mais da metade das abstenções registradas no primeiro turno (55%) foi de pessoas que completaram, no máximo, o Ensino Fundamental, apesar de esse grupo representar 40% do eleitorado. Os dados reforçam a hipótese de que a ausência de parte do eleitorado nas urnas prejudicou o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. É nesse estrato que o petista alcança um de seus melhores desempenhos: é o preferido de 62%, contra 32% que escolhem Jair Bolsonaro (PL), segundo pesquisa Ipec.
Os dados organizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deixam claro que é por escolaridade que o impacto da abstenção é mais sentido: quanto menos escolarizados, maior a abstenção. Entre aqueles que apenas leem e escrevem, a abstenção foi de 31,38%. Entre os com Ensino Fundamental incompleto, foi de 23,85%.
Além deles, metade dos analfabetos faltaram. Segundo a legislação, entretanto, este último grupo não é obrigado a votar, assim como menores de 18 anos e maiores de 70. Por outro lado, impacto da abstenção é proporcionalmente menor entre os mais escolarizados: 11% dos brasileiros com diploma de Ensino Superior faltaram.
A abstenção no primeiro turno superou 32 milhões de pessoas, o equivalente à população do Peru ou da Venezuela. Especialistas apontam que a ausência de eleitores prejudicou mais o ex-presidente Lula do que Bolsonaro. Neste ano, a abstenção foi de 20,79%, um aumento em relação a quatro anos atrás, quando foi de 20,19%.
Os dados são reforçados pelo cruzamento dos dados de votação de cada um dos candidatos à Presidência com a taxa de abstenção nos municípios brasileiros. Os números revelam que existe uma tendência de Lula ir melhor nos lugares onde a abstenção é maior, enquanto Bolsonaro costuma ir melhor nas cidades onde os eleitores faltam menos.
Mas o tamanho desse impacto ainda é incerto. A lei eleitoral no Brasil permite que eleitores faltem sem justificativa à eleição em apenas três casos: menores de 18 anos, maiores de 70 anos e analfabetos.
Quando a abstenção do primeiro turno é analisada pela idade dos faltantes, os dados demonstram que idosos foram mais às urnas do que há quatro anos. Por exemplo, em 2018, 44% dos eleitores com 70 a 74 anos faltaram, número que caiu para 38% este ano.
Mas esses números devem ser analisados com cuidado: em relação a 2018, houve, sim, um acréscimo de 1,6 milhão de eleitores acima de 70 anos nas urnas. Mas a população do Brasil também está naturalmente envelhecendo: há 2,7 milhões de pessoas acima de 70 anos a mais aptas a votar do que havia em relação há quatro anos. Ou seja, haverá mais idosos nas urnas, mas também porque há mais idosos eleitores.
O impacto desse grupo no resultado também não é claro — pelo contrário. A queda na abstenção entre os idosos foi puxada, em grande medida, pelos menos escolarizados. Por exemplo, a abstenção caiu, sim, entre os eleitores com 70 a 74 anos. Em 2018, 47,52% dos eleitores dessa faixa etária que só sabiam ler e escrever faltaram. Esse número caiu para 41,97%. Entre aqueles com ensino fundamental completo, a queda foi de 4,7 pontos. A mesma lógica se repete mesmo entre aqueles que são obrigados a votar: no grupo de eleitores de 65 a 69 anos, cresceu mais o comparecimento entre aqueles que fizeram até o Ensino Fundamental. Mas conforme a idade vai diminuindo, a situação se transforma. Na faixa etária que vai de 35 a 39 anos, quem estudou menos faltou mais em relação a 2018.