Educação

Do acadêmico ao artístico: crianças e adolescentes superdotados encontram seu lugar nas escolas

Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação da Seduce realiza capacitação de professores para identificar estes alunos

“Tudo no desenvolvimento do Matheus foi rápido. Ele começou a andar e falar muito cedo. Sempre muito curioso, com dois anos ele já sabia o alfabeto inteiro”, conta a dona de casa Elizangela Regina Zanon Moreira, de 35 anos, mãe do pequeno Matheus Zanon Moreira, de 7 anos.

Elisângela lembra que os professores sempre disseram a ela e ao marido, Valbson Neves Moreira, de 42 anos, que Matheus era mais avançado que as demais crianças na escola, mas foi após uma avaliação feita no ano passado por uma equipe do Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (Naahs) da Secretaria de Educação, Cultura e Esporte (Seduce) que eles foram informados que o filho poderia ter altas habilidades/superdotação.

A Seduce tem uma gerência de Ensino Especial, destinada a atender todas as necessidades dos alunos da rede, sejam eles portadores de necessidades especiais, altas habilidades/superdotação, entre outras especificidades. Mais de 120 estudantes com potencial para superdotação já eram assistidos em dezembro de 2016. Em março deste ano outras 49 crianças e adolescentes foram indicados para o Processo de Avaliação das Necessidades Educacionais Especiais em Altas Habilidades/Superdotação.

Uma dessas crianças é o Matheus. Elisângela lembra que nos primeiros dias de aula o filho ficou muito decepcionado e nem queria ir mais para a escola. “Tudo o que ensinavam, ele já sabia. Depois da avaliação, conseguimos avançar ele de série. Hoje ele está no 4º ano e também faz atividades extras uma vez por semana. É a parte que ele mais gosta. Ele se diverte muito e está muito feliz”, conta a mãe.

Diferenças

Lorena Resende, gerente de Ensino Especial da Seduce, afirma que nem sempre o aluno com altas habilidades/superdotação se destaca na parte acadêmica. Muitos têm afinidade maior na área artística. “Geralmente é um aluno curioso e inquieto. A precocidade é confundida com hiperatividade e dificuldades de aprendizagem, mas, na verdade, ele quer dar atenção àquilo que interessa mais”, explica a especialista.

Hálec Halan da Silva Reis, de 17 anos é um destes estudantes. Ele sempre gostou de desenhar e a habilidade chamou atenção dos professores. Após avaliação e conversa de membros da gerência de Ensino Especial com os seus pais, o aluno passou a fazer parte de um grupo que frequenta o Ateliê das Artes, no setor Universitário, para aprimorar as técnicas de desenho. Como gosta de vídeo game, Hálec quer desenvolver seu aprendizado nesta área.

Acompanhamento

A professora de avaliação de necessidades educacionais especiais em altas habilidades/superdotação Maria Cristina Alcântara afirma que orientação de qualidade a estes estudantes é imprescindível. “Não é porque eles são bons que estão prontos. As atividades extras devem ser aplicadas fora do horário normal das aulas. Todos os dias eles precisam frequentar a escola normalmente em uma turma regular”, diz a especialista.

Além disso, Maria Cristina afirma que é necessário ensinar a estes estudantes que todas as áreas precisam ser compreendias. “Apesar de não gostar tanto de outras áreas, é preciso ser aplicado nelas também. Temos uma equipe preparada para este acompanhamento”, conta Maria Cristina.

Características

A professora do curso de psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) Débora Diva Pires, afirma que a maior parte das crianças superdotadas são altamente críticas e carentes emocionalmente. “Elas sempre querem saber a verdade sobre qualquer coisa. É interessante também ver que elas geralmente sentem muita simpatia por crianças com algum tipo de deficiência. Elas vão além em tudo que é pedido”, explica Débora.

De acordo com a especialista, diferenciar uma criança superdotada de uma hiperativa é muito simples. A primeira resolve situações muito rápido; a segunda não consegue ver um filme até o fim e costuma derrubar objetos por onde passa sem perceber. “Quando o professor não consegue suprir a carência da criança superdotada com o que ela precisa de conteúdo, ela começa a ficar inquieta. Por isso, existe uma certa confusão na hora de identificar, mas hoje mais profissionais estão capacitados”, conclui Débora.

A gerência de Ensino Especial promove cursos de capacitação de professores da Rede Estadual de Ensino para que eles sejam capazes de identificar os estudantes com altas habilidades.