Acidentes domésticos com crianças aumentam 25% durante a quarentena, diz sociedade de pediatria
O pequeno Juan Carlos, de 6 anos, sempre foi descrito pela mãe, a técnica em…
O pequeno Juan Carlos, de 6 anos, sempre foi descrito pela mãe, a técnica em enfermagem Ilka Ulisses, como um menino tranquilo e apenas “um pouco arteiro”. No entanto, bastaram apenas alguns dias de isolamento social por causa da Covid-19 para que tudo mudasse.
Preso em casa, o menino passou a “voar” pela casa e a subir em todos os móveis. Um desses voos foi do rack da sala para o sofá. O resultado foram quatro pontos no queixo. Assim como Juan Carlos, outras crianças têm ido parar em consultórios e emergências por causa de acidentes domésticos. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Pediatria, houve um aumento de cerca de 25% dos casos de acidentes com crianças durante a quarentena.
— O Juan é um menino muito ativo, mas passou a ficar apenas dentro de casa. Acho que essa energia acumulada está fazendo com que ele invente as brincadeiras mais arriscadas. Quando ele caiu após pular no sofá, saiu muito sangue. Na hora, meu medo era ter que ir para um hospital. É um risco muito grande durante uma pandemia. Por sorte, consegui ser atendida num consultório, onde o risco de contágio pelo novo coronavírus é menor. Agora não tiro o olho dele — disse Ilka Ulisses, que mora numa casa em Irajá, na Zona Norte do Rio.
Ficar de olho nos pequenos é o principal conselho dos médicos no período de quarentena. O cirurgião plástico Luiz Victor Carneiro Jr., membro da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica, lembra que, neste período de confinamento, as crianças aguçam a curiosidade e acabam explorando cantos da casa que nunca tinham chamado a atenção deles.
Nesses momentos de aventura é que costumam acontecer acidentes. Alguns, como o caso de Juan Carlos, provocam ferimentos leves. O médico citou o caso de uma criança, que cortou as pontas de três dedos ao prender a mão na porta. De acordo com o Ministério da Saúde, acidentes domésticos correspondem a cerca de cinco mil mortes e 110 mil casos de hospitalização por ano.
— Ficar preso em um espaço restrito deixa qualquer um irritado, principalmente as crianças. Na busca de ocuparem o tempo, acabam se envolvendo em acidentes. Os pais não estão acostumados a isso. Em períodos como as férias escolares a situação é diferente. As crianças podem sair para brincar. Agora, é todo mundo dentro de casa — explicou o cirurgião.
De acordo com os médicos, pelo menos 90% dos casos de acidentes domésticos podem ser evitados. Os cuidados começam na escolha dos móveis da casa, onde as camas devem ter altura adequada, e berços precisam de telas de proteção. O uso de grades na entrada das portas da cozinha e do banheiro pode reduzir consideravelmente o número de acidentes, uma vez que a maioria deles ocorre nesses cômodos.
As queimaduras, segundo Carneiro Jr. são sempre comuns. Nesse período de pandemia de Covid-19, o número tem sido menor. Para ele, o fato de os pais estarem trabalhando em casa podem ter redobrado a atenção.