Acidentes em rodovias federais têm custo estimado em R$ 12 bi ao ano, diz CNT
Foram 5.391 mortes em estradas federais em 2021, média de 15 por dia
O custo estimado com acidentes é mais que o dobro do valor investido pela União em rodovias federais em 2021, segundo levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT). Os números divulgados nesta terça-feira (8) pela entidade mostram gasto projetado de R$ 12,2 bilhões com sinistros ante R$ 5,76 bilhões efetivamente investidos em estradas federais.
Os dados divulgados no Painel CNT de Consultas Dinâmicas dos Acidentes Rodoviários apontam que 5.391 pessoas morreram em mais de 64 mil acidentes nas rodovias federais em 2021 —aumento de 2% em relação a 2020, quando foram 5.287 óbitos. Em média, 15 perderam a vida por dia apenas nas estradas sob responsabilidade da União.
Diretor-executivo da CNT, Bruno Batista afirma que as estimativas de custos decorrentes dos acidentes são baseadas em metodologia do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que leva em consideração desde os gastos hospitalares até os previdenciários.
“Essa diferença [entre investimento e custo estimado dos acidentes] mostra o quadro dramático em relação à manutenção da segurança nas rodovias. Ao não fazer investimentos, o governo acaba sobrecarregando outras áreas que são suas, como previdência e saúde, por exemplo”, diz Batista. “É uma política pouco inteligente. Causa danos sociais graves, danos econômicos robustos”, completa.
Seis em cada 10 ocorrências foram colisões
Seis em cada dez ocorrências (60,2%) foram colisões, responsáveis também por 61,3% dos óbitos. Na sequência, surgem os atropelamentos, que representam 17,6% das mortes. Os números da CNT mostram também que praticamente a metade dos acidentes ocorreu entre sexta-feira e domingo. Registram ainda que 82,2% dos mortos são do sexo masculino.
Na comparação entre as rodovias, a BR-101 é a que soma o maior número de ocorrências com vítimas (9.257 casos). A BR-116 vem na sequência (7.826), mas é aquela com o maior número de mortes no total, com 690 vidas perdidas em um ano. Ambas são as mais extensas do país.
O levantamento mostra também que automóveis foram os veículos que mais se envolveram em acidentes com mortes (43,1%), seguidos pelas motos (30,7). O painel da CNT mostra que, além dos R$ 5,76 bilhões destinados especificamente para as rodovias, o governo federal investiu R$ 7,7 bilhões no setor de transporte como um todo, valor ainda abaixo da estimativa de custos com os acidentes.
Segundo Batista, é importante ressaltar que os dados do painel correspondem apenas às rodovias federais. Caso fosse possível incluir as estaduais e municipais, os números seriam ainda maiores. “Esse problema pode ser multiplicado por três, tanto em termos de vítimas quanto de custos”, explica.
Segundo a CNT, o Funset (Fundo Nacional de Segurança e Educação de Trânsito), que recebe 5% dos recursos decorrentes da aplicação de multas por cada um dos entes da federação, poderia ser mais bem aplicado como tentativa de reduzir o problema. A confederação afirma que, entre 2005 e 2021, dos R$ 11,68 bilhões autorizados para ações e programas que contam com recursos do fundo, apenas R$ 2,30 bilhões foram utilizados no período (19,7%). “É muito pouco”, diz Batista.
Em dezembro, levantamento da CNT mostrou também que a situação das rodovias sob gestão pública piorou nos últimos dois anos no Brasil. A pesquisa apontou, por exemplo, que pulou de 67,5%, em 2019, para 71,8%, em 2021, o percentual de trechos considerados regulares, ruins ou péssimos.