Supremacista

Acusado de agressão, guarda do ABC Paulista defende supremacia branca; vídeo

Um agente da GCM (Guarda Civil Metropolitana) de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista,…

Um agente da GCM (Guarda Civil Metropolitana) de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, compartilhou imagens e textos que fazem apologia a grupos de supremacia branca em um perfil nas redes sociais.

O subinspetor da GCM Adenilson Vaz da Costa, afastado do cargo após ser acusado de agressão por moradores da cidade, escreveu em sua página um texto em que saúda a memória de Alexander Rud Mills, um advogado e escritor australiano simpatizante ao nazismo. Ele celebra Mills como um “proeminente defensor do Renascimento do Paganismo Germânico” e “fundador da Igreja Anglicana de Odin”.

Na sua conta, agora desativada, ele se identifica como Alexandre Vaz Asatru. O último nome se refere ao “Ásatrú”, um movimento religioso pagão germânico que busca preservar as raízes de povos que habitavam no norte europeu. Essas crenças, no entanto, foram adotadas por grupos supremacistas brancos na segunda metade do século 20.

No texto, o subinspetor Vaz cita a AFA, em alusão à Assembleia Popular de Asatru (do inglês Asatru Free Assembly), uma organização criada nos anos 1990 pelo supremacista branco Stephen McNallen. Em seu site, o grupo defende uma série de princípios, entre eles o de apoiar “relacionamentos familiares fortes e saudáveis com brancos” e esclarece que os povos étnicos europeus são “pessoas brancas”. O oficial de São Bernardo do Campo também utilizou filtros na foto do perfil que fazem referência ao aniversário de 25 anos dessa associação.

Em outra publicação, ele exibe uma foto com uma imagem de uma família branca e uma mensagem traduzida do inglês sobre o povo Asatru. “O pensamento revolucionário que afirma que a memória genética de um povo contém as chaves da filosofia, religião e questões espirituais de cada pessoa que faça parte daquele povo!”, destacou o funcionário, no post. Na parte superior esquerda está escrito “Woman Mit Us!”, que faz menção ao Wotanismo, um culto derivado do Odinismo, que abraça ideais como a supremacia branca, nazismo e a psicologia de Carl Jung.

O UOL tentou entrar em contato com Adenilson Vaz da Costa, mas não teve resposta até a publicação da matéria.

Nas redes sociais, Adenilson Vaz da Costa escreveu em sua página um texto em que saúda a memória de Alexander Rud Mills, um advogado e escritor australiano simpatizante do nazismo (Imagem: Reprodução/Facebook)

Agressões em um bar

Fora da internet, Vaz possui um cargo de alto escalão na GCM, abaixo apenas do inspetor. O agente público é conhecido pelo abuso de autoridade em abordagens, como relata o empresário Danilo Pagliai, 25, sócio de um bar no bairro de Rudge Ramos. Ele diz que é vítima de ações violentas há cerca de dois anos.

Na noite de domingo (22), após as 23h, o empresário narra que o guarda chegou em uma viatura com mais três funcionários para atender uma ocorrência de briga a cerca de 150 metros do estabelecimento de Pagliai. No entanto, Vaz aparece em vídeo gesticulando e gritando, com a máscara de proteção no queixo, que havia clientes do lado de dentro. Na sequência, desfere socos e pontapés no portão do bar.

O empresário diz que havia apenas funcionários que executavam a limpeza da casa, que já estava fechada. Pagliai acionou a Polícia Militar, mas os policiais informaram que só poderiam agir no caso de presenciarem uma agressão, diz. A ação durou 1h30. “Ele [subinspetor Vaz] disse que não ia para a delegacia, que não ia dar nada para ele. E falou que ia acabar a minha vida”, afirma.

A assistente jurídica, 26, noiva de Pagliai, registrou a ação em um vídeo no seu celular. Ao UOL, ela declarou que foi agredida fisicamente por Vaz com um “empurrão no ombro” e atingida com spray de pimenta no rosto. O casal registrou Boletim de Ocorrência contra o guarda municipal na segunda-feira (23).

Em outras ocasiões, Claudia diz que Vaz chegou a entrar no bar e atirou spray de pimenta em funcionárias do caixa. Ela reconhece que o problema não é da GCM de São Bernardo, mas sim do oficial que está no comando. “A gente sabe que o problema não está na corporação. Eles [guardas] agem sempre de forma correta, esperam os bares fecharem as portas no horário, sem truculência. É uma pessoa específica que acaba problematizando toda a operação.”

‘Ele queria carnificina’

Na madrugada de sábado (21), Vaz também foi registrado em outra operação, essa de despejo em uma ocupação com 200 famílias. Quem estava naquele momento foi Anderson, que pediu para ser identificado dessa forma, e conta ter visto o guarda ofendendo, ameaçando e agredindo fisicamente pessoas. A Ocupação Padre Leo Comissari foi erguida pelo Movimento de Luta nos Bairros de São Paulo (MLB-SP) naquele início de dia, mas durou menos de seis horas.

O subinspetor inicialmente conversa com os moradores sobre a ocupação do local, mas, na sequência, ele ouve uma pessoa não identificada dizer que “estão derrubando árvore”, ao que ele grita “sai da minha frente” e adentra o espaço. Anderson conta que a retomada do terreno, que estava abandonado e era utilizado para descarte de lixo, foi feita sem mandado judicial.

Vaz acionou a Romu (Rota Ostensiva Municipal), batalhão especializado em controle e dispersão de multidões, para executar o despejo das famílias. “Ele é um cara agressivo, despreparado. Sofremos agressões verbais, ameaças, a nossa advogada sofreu agressão [física]. Fomos maltratados de todas as formas. Só faltou ele mandar a GCM entrar para atirar. Nós argumentamos que queríamos sair pacificamente. Ele queria carnificina”, diz.

Para Anderson, a ação só aconteceu dessa forma porque veio uma ordem superior. “O prefeito [Orlando Morando, do PSDB, reeleito no primeiro turno], não gosta de ocupações. Ele manda a GCM resolver na base da pancadaria. Estamos vivendo uma ditadura em São Bernardo.”

Vaz compartilhou os vídeos das ações para seus amigos verem em sua rede social.

O outro lado

Depois da repercussão do vídeo no bar de Pagliai, o prefeito Orlando Morando publicou um vídeo em uma rede social para dizer que o agente Adenilson Vaz da Costa foi afastado das ruas. Entretanto, não menciona a ação de despejo na Ocupação Leo Comissari.

“Eu determinei o afastamento imediato dele das operações de rua, e agora será instaurado um procedimento para apurar a sua conduta que, pelas próprias imagens, são as piores possíveis […] O cidadão sempre em primeiro lugar. Nós defendemos a ordem na cidade de São Bernardo, mas não podemos compactuar com abusos cometidos por um GCM”, disse na terça-feira (24).

O UOL entrou em contato com a Prefeitura de São Bernardo do Campo para pedir esclarecimentos sobre as ações do subinspetor Vaz e os compartilhamentos de imagens de apologia a grupos supremacistas brancos. A resposta, via assessoria de imprensa, fala sobre a possibilidade de demissão do funcionário.

“A Prefeitura de São Bernardo, por meio da secretaria de Segurança Urbana, informa que não compactua com a atitude do GCM registrada em vídeo e instaurou procedimento interno para apurar todas as denúncias envolvendo o funcionário, incluindo as publicações em suas redes sociais. O guarda foi afastado das atividades de rua até o término das investigações. Caso o desvio de conduta seja confirmado, todas as medidas administrativas cabíveis serão adotadas, podendo chegar à demissão do funcionário.”

A lei federal 7.716/89 informa, no artigo 20, que é crime praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Assim, é proibido fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. A pena é de dois a cinco anos de prisão e multa.