Acusado de guardar armas do PCC tinha permissão de colecionador do Exército
Apontado pelo MP (Ministério Público) como integrante da nova cúpula do PCC (Primeiro Comando da…
Apontado pelo MP (Ministério Público) como integrante da nova cúpula do PCC (Primeiro Comando da Capital), Levi Adriani Felício, 54, era o responsável por lavar dinheiro e guardar armas para a facção no Paraguai, de acordo com relatório da PF (Polícia Federal) obtido pelo UOL.
Felício, que é um dos líderes do setor de “logística e fornecimento de drogas” do PCC, segundo o MP informou na segunda-feira (14), tinha certificado de registro como CAC (colecionador, atirador e caçador) junto ao Exército brasileiro. O documento encontrado pela investigação tinha validade até 2016.
O certificado assinado pelo Ministério da Defesa o permitia colecionar, recarregar munição e fazer uso desportivo. A defesa de Felício nega que ele seja criminoso e diz que as armas apreendidas com ele em sua detenção, no Paraguai, estavam devidamente registradas. Em nota, o Exército afirmou que a permissão foi cancelada em 2017.
Promessa de campanha do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a flexibilização da atuação dos CACs tem gerado polêmica. Em abril, o presidente revogou portarias que determinavam um rastreamento mais rígido de marcação de armas e de munições. Especialistas no tema apontaram, à época, que a medida poderia ajudar facções criminosas.
De acordo com documentos reunidos pela PF, Felício participou de dezenas de cursos e concursos de tiros desportivos, em cidades diferentes do Brasil. Desde 2014, porém, parou de frequentar ambientes de tiros no Brasil. Isso porque, de acordo com a investigação, passou a viver no Paraguai, agindo como narcotraficante.
Felício “teria assumido a função de adquirir drogas em solo estrangeiro e remeter para o Brasil, para interesse do PCC”, escreveu o delegado da PF Florisvaldo Emílio das Neves à época. Desde a prisão de Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, o Minotauro, ele seria o “homem forte” do PCC no Paraguai, até ser preso.
Felício foi detido em 14 de outubro do ano passado na capital paraguaia, Assunção, em um apartamento de luxo onde vivia nos últimos anos disfarçado de empresário, durante uma operação conjunta da PF brasileira e da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas, do Paraguai. Atualmente, ele está no sistema penitenciário federal brasileiro.
O MP paulista documentou em agosto de 2020: “Levi Adriani Felício é uma das maiores lideranças do PCC no Brasil. Ele foi condenado por se integrar à facção criminosa em 2014 e, de lá para cá, aumentou consideravelmente seu poder e influência. Levi se tornou a maior liderança do PCC no Paraguai.”
Organograma da “nova cúpula”
O organograma montado pelo MP começou com a prisão de Robson Sampaio de Lima, 37, conhecido como Tubarão, e mais quatro pessoas, em 2018. Apontado como contador da facção, com ele, foi apreendido um notebook e três cadernos com contabilidade do crime.
Tubarão foi condenado a 12 anos de prisão em 6 de novembro de 2019. Segundo os policiais, com as cinco pessoas detidas, foram apreendidos 73 quilos de maconha e quase R$ 391 mil.
De acordo com o MP, Tubarão confessou ser o contador da facção. Ao todo, segundo a Promotoria, a nova cúpula do PCC era formada por 21 pessoas, sendo que duas delas morreram.
Irmãos no crime
Apontado como integrante da cúpula do PCC, Felício é investigado por ligação com a facção paulista há duas décadas. Seu irmão, Rodrigo Felício, o Tico, já foi apontado como um dos líderes da facção criminosa na região de Piracicaba e Limeira (SP) em apurações da PF e do MP.
Por conta dessa suposta relação dos irmãos com o PCC, em 2014, os dois foram alvo da operação Gaiola, deflagrada pela PF. Em 1º de abril daquele ano, Tico foi preso preventivamente. Felício soube, desconfiou que poderia ser alvo da mesma operação e aproveitou a demora, de dias, na expedição de sua ordem de prisão para fugir para o Paraguai, segundo a investigação.
Protegido no Paraguai, Felício passou a visitar o Brasil com frequência a partir de 2015, de acordo com as investigações. Naquele ano, ainda foragido, ele conseguiu um hábeas corpus revogando sua ordem de prisão. Mesmo respondendo a processos por tráfico, Felício esteve na região de Limeira e Piracicaba, onde atuava ao lado irmão, que também continua preso.