Acusado de ocultar corpo de criança em mala na rodoviária de Curitiba é condenado a 50 anos
Raquel Genofre foi encontrada morta em 2008 e condenado foi identificado pelas digitais
O réu Carlos Eduardo dos Santos, acusado de matar a menina Rachel Genofre, em 2008, em Curitiba (PR), foi condenado a 50 anos de prisão. Ele vai responder pelos crimes de atentado violento ao pudor e homicídio triplamente qualificado mediante meio cruel e ocultação de cadáver. O corpo da criança, de 9 anos, foi encontrado dentro de uma mala de viagem, na Rodoferroviária de Curitiba.
O assassino confesso foi interrogado nesta quarta-feira (12) por videoconferência, já que está preso em Sorocaba (SP). O julgamento durou aproximadamente dez horas e a decisão saiu no início da madrugada desta quinta-feira (13).
Foram ouvidas sete testemunhas definidas pelo Ministério Público do Paraná, três delas escolhidas pela defesa do réu. A primeira pessoa a ser ouvida foi a mãe de Rachel, Maria Cristina Lobo. Ela prestou depoimento por mais de uma hora. O pai, Michael Genofre, também foi ouvido.
“A justiça foi feita e a decisão trouxe alívio. Minha filha não volta, mas precisamos lutar pela segurança dos nossos filhos”, desabafa Maria Cristina.
Daniel da Costa Gaspar é assistente de acusação e afirma que o júri popular permitiu que a autoria do crime, já comprovada por provas materiais, fosse reconhecida em pleno tribunal. “Uma longa espera de 13 anos de angústia, que parecia nunca ter fim. Com a ajuda da ciência e da tecnologia, os jurados reconheceram o avanço da criminalística e das provas no processo penal, e a autoria do crime e materialidade do fato. Hoje, finalmente, a família poderá dormir tranquila, já que honramos a memória da Rachel”.
O principal argumento do réu é que, apesar da confissão, o exame de DNA para comprovar o envolvimento dele no caso foi feito com material genético da vítima armazenado há dez anos e isso poderia comprometer o resultado. O advogado Roberto Neves afirma que vai recorrer da decisão.
O perito criminal, Hemerson Bertassoni Alves, foi o profissional responsável por produzir o perfil genético que identificou o autor do crime. Ele afirma que a incidência de erro é praticamente nula.
“A ferramenta nacional é extremamente robusta e tem trazido uma rápida elucidação de crimes que, obviamente, a investigação não teria contato. A Polícia Civil do Paraná trabalhou na investigação, mas esse homem ainda não estava no radar. Só foi possível essa confirmação com o banco nacional. O DNA é único e não há dois iguais no planeta. A chance de ter um DNA idêntico é muito pequena, o que faz com que essa tecnologia de identificação tenha uma vantagem enorme nas investigações”, explica o perito.
Nesse caso, a polícia diz que foram feitos dois exames, um deles uma contraprova que também apontou a participação de Carlos Eduardo no crime.
O Conselho de Sentença foi composto por cinco mulheres e dois homens escolhidos por sorteio. O júri popular foi a portas fechadas, na capital paranaense, sem o acesso da imprensa e da população.
As restrições de acesso não têm relação com a pandemia. Por se tratar de um crime que envolve uma criança, todo o processo tramita em segredo de justiça. A determinação consta no Estatuto da Criança e do Adolescente, para preservar a imagem da menor.
Julgamento depois de quase 13 anos
O corpo de Rachel Genofre foi encontrado dentro de uma mala, embaixo de uma escada da Rodoferroviária de Curitiba, dois dias após o desaparecimento, no dia 03 de novembro de 2008. Ela sumiu depois de sair da escola, que fica no centro da capital do Paraná. O corpo foi encontrado com sinais de violência sexual e estrangulamento.
A câmera de segurança do terminal rodoviário não estava funcionando, o que dificultou o trabalho de investigação. Onze anos após a morte, exames de DNA ajudaram a polícia a identificar o criminoso.
Carlos Eduardo dos Santos está preso em Sorocaba (SP) e cumpre pena de 25 anos por outros crimes. Após a identificação como suspeito pela morte da menina, confessou à polícia ser o responsável pelo assassinato.
As investigações apontaram que, na época do crime, Carlos morava a menos de um quilômetro da escola e a vítima passava com frequência pela rua dele. Em depoimento, o acusado disse que mentiu que era produtor de um programa infantil para atrair Rachel.
Desde o crime, onze delegados do Paraná atuaram diretamente no caso, além de profissionais de Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. Pelo menos dez suspeitos de matar a menina também foram investigados.
Outros crimes
No curso das investigações foi constatado que o réu estuprou, pelo menos, seis crianças entre 4 e 14 anos. O primeiro caso foi em 1985, contra uma menina de quatro anos, em São Paulo. Ele também praticou, em média, 17 crimes de estelionato e um de roubo.
A Polícia Civil do Paraná também traçou rotas percorridas pelo criminoso nos últimos anos. Foi concluído que o homem teria passado por 14 cidades do Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Ainda há suspeitas que ele tenha morado em Minas Gerais, Bahia e Goiás.