Adriano Pires avisa que desistiu da presidência da Petrobras, mas Bolsonaro tenta manter indicação
Após o consultor Adriano Pires informar ao Palácio do Planalto ter desistido de ocupar a presidência da…
Após o consultor Adriano Pires informar ao Palácio do Planalto ter desistido de ocupar a presidência da Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro ainda tenta reverter a decisão e salvar a indicação do economista para o cargo.
Pires não fez ainda qualquer comunicado formal ao governo. Não enviou até agora uma carta desistindo da indicação, por exemplo. Mas já avisou a ministros que não teria como assumir o cargo por conflitos de interesses em decorrência das empresas para as quais ele prestou serviços.
Adriano Pires havia sido indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para o cargo na semana passada, para substituir o general Joaquim da Silva e Luna. No domingo, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, já havia declinado do convite para o cargo de presidente do Conselho de Administração da empresa.
Bolsonaro está no Rio, sede da empresa, acompanhado de ministros como Bento Albuquerque, de Minas e Energia. Em nota divulgada na tarde desta segunda-feira, o Palácio do Planalto e o Ministério de Minas e Energia informaram que não receberam nenhum comunicado oficial de Adriano Pires.
Obstáculos para posse de Pires
O problema também é que o Comitê de Pessoas da Petrobras tem em maõs pareceres contrários às nomeações de Pires e Landim (presidente do Flamengo). Eles chegaram a ser avisados desses documentos. Esse parecer é decorrente de uma investigação conhecida internamente como Background Check de Integridade (BCI).
O Comitê de Pessoas, portanto, seria mais um obstáculo para Pires assumir o cargo, caso ele recue e decida ficar na empresa. As relações dele também despertaram críticas da equipe econômica, especialmente por conta do novo Marco Regulatório do Gás natural.
Em conversas com auxiliares no domingo e nesta segunda-feira, Bolsonaro atribuiu a supostos “inimigos” que estão na Petrobras os obstáculos criados para Pires assumir o cargo. Esses obstáculos deixaram Bolsonaro irritado e o presidente não quer dar o braço a torcer.
Nas conversas, Bolsonaro reclamou que teria, na sua visão, de escolher o presidente da Petrobras. E afirmado que Pires é qualificado para o cargo. Em entrevista ao jornal O Globo na semana passada, Albuquerque disse que Adriano Pires era a pessoa mais indicada para estar à frente da Petrobras neste momento.
Por lei, filho de Pires não poderia comandar CBIE
Para assumir a Petrobras, Pires também precisaria contornar uma exigência considerada difícil por ele. Pela legislação, o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), que ele preside, não poderia ficar sob o comando de seu filho, Pedro Rodrigues Pires, hoje sócio-diretor do empreendimento. A Lei das Estatais veda que executivos dessas empresas tenham parentes em empreendimentos concorrentes.
Fundado em 2000, o CBIE se apresenta como uma consultoria especializada em regulação e assuntos estratégicos em energia. Nos quadros da empresa consta Pedro Rodrigues Pires, filho de Adriano Pires, como sócio diretor.
O Ministério Público já pediu ao Tribunal de Contas da União (TCU) que apure se há conflito de interesse na indicação de Adriano Pires. Isso porque, conforme argumenta o MP, Pires está há mais de 20 anos à frente do CBIE.
Entre os clientes de Pires está o empresário e sócio de distribuidoras de gás Carlos Suarez, que é também amigo de décadas de Landim. Outros clientes do consultor são a associação do setor (Abegás), a Compass, concessionária de gás do empresário Rubens Ometto, e diversas outras empresas do setor.
Não é segredo para o governo, porém, essa relação de Pires. Auxiliares de Bolsonaro, inclusive, dizem que ele foi escolhido por conta desse currículo.