Advogado barrado em agência bancária diz ter sido vítima de racismo
Advogado, que gravou no celular toda a situação, conta que foi barrado pelo segurança ao tentar entrar na agência que, sem nenhuma justificativa aparente, permitiu a entrada de vários clientes, exceto a sua. A polícia chegou a ser acionada.
O que era para ter sido apenas mais um procedimento rotineiro de trabalho para o advogado goiano Jonas Batista, de 32 anos, virou uma situação de constrangimento e indignação. Jonas, que é negro e advoga no interior de Goiás, relata ter sido vítima de racismo em uma agência do Banco do Brasil no município de Anicuns, a 83 quilômetros da capital. O advogado, que gravou no celular toda a situação, conta que foi barrado pelo segurança ao tentar entrar na agência que, sem nenhuma justificativa aparente, permitiu a entrada de vários clientes, exceto a sua. A polícia chegou a ser acionada.
O caso ocorreu na manhã da última terça-feira, 22, na agência do Banco do Brasil localizada na Avenida Tocantins, no centro de Anicuns. Jonas relata que, na manhã em questão, precisou acompanhar três clientes em agências bancárias para resolver assuntos relacionados à pensão do INSS. O advogado, então, conta que, por volta das 10h30, foi com a última cliente, uma mulher que possui problemas mentais, ao Banco do Brasil para tomar conhecimento sobre valores da cliente retidos na agência.
Porém, quando chegou ao local, os problemas começaram. Ao Mais Goiás, Jonas, que também é correntista na agência em questão, narra que pegou a fila para passar pela porta giratória mas, em sua vez, foi barrado pelo segurança. “O guarda colocou a mão na porta, balançou o dedo e disse que não, não podia entrar. Então eu fiz ‘ok’ pra ele, voltei, retirei meu celular da caixinha e fiquei esperando na fila para entrar”, recorda. O advogado conta que esperava ser o próximo a entrar, porém, o inusitado ocorreu.
“Uma mulher loira passou a na frente e eu falei ‘Moça, acho que você não pode entrar’, mas simplesmente ela entrou e não era funcionária”, conta o advogado.
Segundo o advogado, ao presenciar o fato, questionou o segurança do porquê de a mulher ter tido a entrada permitida e a dele negada. “Bati no vidro e gesticulei, mas ele simplesmente me ignorou”, diz. Após não ter o questionamento respondido, Jonas conta que o segurança, então, chamou sua cliente e a ajudou para passar pela porta giratória. Mas no momento em que Jonas tentou novamente entrar, dessa vez logo após sua cliente, foi barrado mais uma vez. “Eu voltei e falei que era advogado dela, disse que precisava entrar para assisti-la, e ele me ignorou mais uma vez”, revela. O advogado, então, conta que começou a se exaltar diante da passividade dos outros funcionários.
“Minha cliente começou a apavorar lá dentro por eu não ter entrado. Voltei a falar, dessa vez mais exaltado, e ele gritou comigo pra eu abaixar a minha voz. Eu mandei ele me respeitar e fazer o trabalho dele. Neste momento, todos os funcionários da agência, inclusive a gerente, já assistiam essa situação e ninguém fazia nada!”, desabafa.
Polícia Militar foi acionada
Jonas relata ter presenciado a entrada de três clientes da fila que passaram na sua frente, enquanto ele permanecia com a entrada negada. “Liguei na ouvidoria e me perguntaram a justificativa, mas nem eu sabia. Desliguei o celular e comecei a gravar”.
Segundo o advogado, cerca de 20 minutos após ter começado a gravar a situação, conseguiu entrar na agência. Porém, havia um motivo. “Já muito exaltado, não percebi que permitiram eu entrar porque tinham chamado a polícia pra mim“, recorda, com revolta na voz.
Ao chegar na mesa da gerente da agência bancária, Jonas questionou o porquê de toda a situação. A resposta aumentou sua indignação. “Veio a justificativa de que agência estava cheia, [que foi barrado] por conta da covid. Isso não é verdade, a agência estava vazia. Todos entraram sem justificativa alguma”, afirma.
O advogado diz sentir um misto de sentimentos negativos em relação ao ocorrido, mas é categórico: “Me sinto sim vítima de racismo“. “São várias as sensações dentro de mim, entre o sentimento de impotência e injustiça, bem como o porquê todos entraram e eu não, sendo que até cheguei primeiro. Outra sensação muito ruim é o fato de que as pessoas assistindo tudo sem o mínimo de se colocar no meu lugar ou pensar ‘espera aí, o que está acontecendo?'”, revela.
Ao Mais Goiás, Jonas afirmou que reuniu todas as evidências e entrará com uma ação contra o Banco do Brasil.
A reportagem do Mais Goiás entrou em contato com a assessoria do Banco do Brasil e repassou o relato de Jonas. A assessoria afirmou que leva casos de racismo em suas agências a sério e prometeu um posicionamento. Porém, até o fechamento desta matéria, nenhum retorno havia sido enviado. O espaço permanece aberto.