Desigualdade nas tarefas domésticas

Afazeres domésticos afetam tempo para mulher trabalhar, aponta IBGE

Pesquisa aponta que, mesmo entre aqueles que trabalham, a diferença de dedicação ao lar é grande, o que limita o tempo das mulheres para o trabalho remunerado

As mulheres brasileiras dedicam duas vezes mais tempo que os homens em afazeres domésticos e cuidados com outras pessoas do lar. Mesmo entre aqueles que trabalham, a diferença de dedicação ao lar é grande, limitando o tempo das mulheres para o trabalho remunerado.

A constatação é da pesquisa Outras Formas de Trabalho, publicada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta sexta (26). Para o instituto, a repetição dos resultados nos três anos em que a pesquisa é realizada no formato atual mostra que o problema é estrutural.

“Quando vi os questionários, pensei: ‘Caramba, não muda praticamente nada. É uma coisa engessada´”, diz a analista do IBGE Mariana Aguas. “A questão cultural é um desafio maior”, completou ela, em entrevista para apresentar os principais pontos da pesquisa.

A segunda divulgação da pesquisa, com dados referentes a 2017, apontou leve crescimento da participação masculina nas tarefas do lar, o que o IBGE relacionou na época a efeitos da crise econômica: com menos dinheiro, as famílias dispensaram empregadas domésticas e os homens foram chamados a contribuir.

Os dados de 2018, porém, mostraram estagnação. No ano passado, 93% das mulheres entrevistadas disseram ter dedicado algum tempo a afazeres domésticos e a cuidados de pessoas. Entre os homens, foram 80,4%.

Os números são maiores do que os 90,5% e 74,1%, respectivamente, verificados em 2016. Mas indicam estabilidade com relação a 2017, quando 92,6% das mulheres e 78,7% dos homens responderam positivamente à pergunta.

Os dados da pesquisa mostram que a dedicação das mulheres nas tarefas do lar permanece bem superior à masculina. Em 2018, elas dedicaram 21,3 horas semanais a afazeres domésticos e cuidados de pessoas, enquanto os homens gastaram apenas 10,9 horas. Em 2017, foram 20,9 e 10,8, respectivamente.

A comparação é desfavorável a elas mesmo considerando mulheres e homens ocupados, isto é, com algum emprego ou trabalho informal. Neste caso, as mulheres dedicam, em média, 18,5 horas por semana a tarefas do lar, enquanto os homens, apenas 10,8 horas.

Com isso, avalia o IBGE, a mulher tem menos tempo para dedicação ao trabalho remunerado. Em 2018, elas tiveram um rendimento médio 20,5% menor do que os homens, segundo pesquisa divulgada pelo mesmo IBGE no início de março.

Ainda assim, somando o tempo de trabalho remunerado à realização de afazeres domésticos e cuidado de pessoas, as mulheres trabalharam, em 2018, três horas por semana a mais do que os homens. Segundo o IBGE, as jornadas semanais delas foram de 53,3 horas semanais e as deles, de 50,2 horas semanais.

A pesquisa do IBGE mostra que continua desigual também a distribuição das tarefas entre aqueles que declaram realizar afazeres domésticos ou cuidar de pessoas residentes no mesmo lar ou de parentes em domicílios diferentes -que são os temas da pesquisa.

As mulheres possuem uma taxa de realização de afazeres domésticos superior à dos homens em seis dos sete grupos de tarefas pesquisados pelo IBGE, excluindo apenas a parte de pequenos reparos ou manutenção de domicílio, automóveis ou eletrodomésticos.
Quando se trata de cozinhar e lavar roupas, há um abismo entre os gêneros. em 2018, 95,5% das mulheres declararam que preparavam refeições e lavavam a louça e 90,9%, que lavavam as roupas. Entre os homens, foram apenas 60,8% e 50,4%, respectivamente.

A pesquisa mostra, porém, que quando vivem sozinhos, os homens assumem as tarefas: 92,7% deles responderam que cozinharam e lavaram a louça na semana da pesquisa e 88,6%, que lavaram roupa. Isto é, a diferença de dedicação é puxada por aqueles que são responsáveis em coabitação ou cônjuges.

No trabalho de cuidar de pessoas, a participação masculina é mais frequente em atividades como ler e brincar (73,7% daqueles que disseram cuidar de pessoas) ou fazer companhia dentro do domicílio (87,9%). Ainda assim, as mulheres têm taxas superiores nos cinco quesitos investigados pelo IBGE.

A maior diferença entre os gêneros nesse caso estão em auxiliar nos cuidados pessoais e nas atividades escolares. No primeiro caso as taxas de homens e mulheres são 67% e 85,6%, respectivamente. No segundo, de 60,7% e 72%.