Aliados de Lula temem que violência amplie abstenção no dia das eleições
Uma corrente do comando da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teme que recentes agressões…
Uma corrente do comando da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teme que recentes agressões a apoiadores do petista provoquem abstenções no dia 2 de outubro.
Para petistas, há uma tentativa de intimidação dos eleitores de Lula com ameaça de tensão nas ruas no dia da votação. A cúpula da campanha vive um dilema sobre como lidar com o possível medo do eleitor.
Enquanto uma ala defende que o assunto seja tratado em mensagens endereçadas ao eleitor, de preferência pelo próprio Lula, outra alega que a simples abordagem poderá afugentar indecisos e até simpatizantes do ex-presidente.
Com o dilema, a orientação é por ora intensificar a campanha anti-abstenção, mas sem abordar o risco de violência no domingo.
O comparecimento às urnas é tratado pelo PT como fator fundamental na tentativa de garantir a vitória de Lula no primeiro turno.
Segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), 20% dos eleitores aptos a votar faltaram às urnas na eleição de 2018. Estudos mostram que boa parte dos que não compareceram às seções eleitorais são de fatias do eleitorado em que Lula registra maior intenção de votos.
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), afirmou na terça-feira (27), que a abstenção “não tem o motivo da violência, necessariamente”, mas que isso “acaba assustando” a população.
Ela ressalta que a campanha de Lula fez um pedido ao presidente do TSE, Alexandre de Moraes, “para que ele assegure o clima da votação no dia”.
“Ou seja, que as forças de segurança tenham condições de dar segurança às pessoas”, disse Gleisi.
Nesta quinta (29), Moraes afirmou que os eleitores terão “total segurança e liberdade” para votar no domingo (2).
“Todas as eleitoras e todos os eleitores poderão se dirigir às sessões eleitorais, tranquilamente, expor a sua posição ideológica votando no candidato ou nos candidatos que escolherem”, afirmou Moraes, ao fim da sessão do STF (Supremo Tribunal Federal) desta quinta.
O ministro também destacou medidas tomadas pelo TSE para aumentar a segurança nas eleições, como o novo texto sobre a proibição da entrada com celular nas cabines de votação e a proibição a CACs (caçadores, atiradores e colecionadores) de transportarem armas e munições no dia que antecede a votação, na data do primeiro turno e nas 24 horas seguintes.
O tema de segurança foi tratado por Moraes em reunião com representantes de centrais sindicais nesta semana.
Outro receio da campanha de Lula é que haja mesários aliados de Jair Bolsonaro (PL) infiltrados nas seções eleitorais que possam tentar coagir eleitores na hora da votação.
Por isso, a estratégia definida foi a de incentivar os simpatizantes a se cadastrarem como fiscais nos locais de votação e denunciarem abusos, se houver.
Em vídeo divulgado nas redes do PT, Gleisi estimula que as pessoas se tornem “fiscais do Lula”. “Vamos garantir a vitória e evitar que Bolsonaro tumultue as eleições. Vamos garantir um processo eleitoral tranquilo e sem violência”, diz ela no filmete.
No Distrito Federal, por exemplo, já há 1100 fiscais cadastrados, para atuarem em 610 locais de votação, segundo dados do PT local. Na capital, os partidos da coligação que apoia Lula também se reuniram com a Secretaria de Segurança Pública e com o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) para discutir medidas de proteção aos eleitores.
Secretário-geral do PT, o deputado Paulo Teixeira publicou uma mensagem de encorajamento nas redes sociais. “Quanto mais o Bolsonaro se desespera com sua situação eleitoral, mais ele prega a violência para desestimular o voto. Não nos intimidarão”, publicou.
No comando da campanha, há também o medo de que proprietários de empresas de ônibus reduzam, deliberadamente, o número de carros em circulação para dificultar acesso de eleitores de baixa renda às seções eleitorais.
O próprio Lula citou esse risco durante discurso no Rio de Janeiro. Na quadra da Portela, o ex-presidente pediu para o seu apoiador encampar um movimento pelo voto.
“E inclusive ficar alerta porque esse maluco que está lá é capaz de fazer com que muitas empresas tirem os ônibus de circulação para o povo não ir votar. A gente vai ter que votar a pé se for necessário.”
A Secretaria Nacional de Assuntos Institucionais do PT enviou a vereadores do partido um modelo de questionamento destinado a prefeitos sobre o funcionamento dos transportes no dia 2 de outubro. Segundo dirigentes petistas, é uma forma de garantir que as prefeituras zelarão pelo trânsito de eleitores.
No dia da votação, os diretórios municipais do PT funcionarão em esquema de plantão. Uma comissão do PT fez uma análise dos riscos de estímulo à abstenção em cada estado.
Segundo petistas, a conclusão é que a ameaça seria maior em um eventual segundo turno por duas razões.
No primeiro turno, os candidatos a deputado e ao Senado acompanham o processo nas seções eleitorais. No segundo, esse exército de apoiadores é desmobilizado.
Além disso, a maior parte dos governadores afinados com o presidente Bolsonaro disputa a reeleição e, muitas vezes, divide o eleitorado com Lula. Por isso, sobressaltos no dia da eleição poderiam afetar seus próprios eleitorados.
Mesmo assim, em áreas de maior incidência de confronto, eleitores do petista têm sido orientados a evitar até mesmo o vermelho característico do PT.
A campanha vem registrando uma escalada da violência nos últimos meses. Em julho, um policial bolsonarista invadiu uma festa de aniversário e matou a tiros um eleitor de Lula, em Foz do Iguaçu, no Paraná.
O caso mais recente —ainda em investigação— é deste sábado (24), quando um apoiador do Bolsonaro morreu após ser esfaqueado em um bar em Rio do Sul, Santa Catarina.