Alta taxa de crianças assintomáticas faz SP desistir de aulas presenciais
Levantamento mostra que 25% dos alunos moram com pessoas com mais de 60 anos, grupo de risco para Covid-19
A prefeitura de São Paulo descartou o retorno presencial às aulas em setembro depois que um levantamento entre alunos de 4 a 14 anos mostrou que 16,1% deles já tiveram contato com o novo coronavírus, a maioria em casos assintomáticos. Segundo levantamento apresentado nesta terça-feira, 66,4% das crianças com prevalência positiva para anticorpos contra a Covid não tinham sintomas da doença, o que seria um risco para a disseminação no retorno às escolas, afirmaram as autoridades.
A pesquisa faz parte da primeira fase de um inquérito sorológico feito na capital paulista com seis mil alunos da rede municipal de ensino.
— O retorno às aulas dessas crianças seria temerário em um momento como este, em que ainda estamos controlando a doença na cidade de São Paulo. Seria muito mais complicado manter distanciamento dentro das salas de aula do que em bares, restaurantes e supermercados — disse o prefeito Bruno Covas, em coletiva on-line.
A pesquisa também mostra que 25% dos alunos testados moram com pessoas maiores de 60 anos, grupo de risco para o novo coronavírus.
— São mais de 250 mil crianças que moram com tios e avós com mais de 60 anos e que poderiam agravar a disseminação da doença nessa faixa da população com mais vulnerabilidade. Voltar às aulas nesse momento significaria ampliação do número de casos, internações e óbitos na cidade de São Paulo, razão pela qual não teremos retorno às aulas em setembro — afirmou Covas.
Segundo o prefeito, a decisão vale tanto para a rede pública quanto a particular.
— É um número bastante expressivo. É uma disseminação que pode se gerar na escola, vai para a família, e da família para a comunidade — completou o secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido.
O levantamento foi baseado em amostras de sangue colhidas entre alunos da rede municipal. Na subdivisão por faixas etárias, as crianças de 4 a 5 anos tiveram 16,5% de prevalência de anticorpos, as de 6 a 10 anos tiveram prevalência de 16,2% e as entre 11 e 14 anos tiveram prevalência de 15,4%.
O índice total de prevalência para anticorpos contra a Covid-19 entre as crianças (16,1%) foi mais alto do que em outro levantamento da prefeitura feito entre adultos, de cerca de 11% de positivos. O número de assintomáticos também é maior entre os mais jovens.
— Se duas a cada três crianças são assintomáticas, as medidas de precaução nas escolas não seriam aplicáveis. Se a escola colocar o medidor de temperatura na porta, não vai apresentar que ela está com febre, por exemplo, e contaminada, às vezes, com a mesma carga viral de um adulto — disse o prefeito Bruno Covas.
Segundo o prefeito, novos inquéritos sorológicos serão aplicados entre as crianças, para uma nova avaliação sobre a volta às aulas em outubro.
Predominância entre pretos e pardos
O levantamento mostrou ainda que alunos pretos e pardos tiveram 30% a mais de prevalência de anticorpos para Covid-19 (17,8%) em relação a alunos brancos (3,7%).
Além disso, a contaminação se mostrou alta mesmo com a adesão das famílias a medidas de distanciamento social e uso de máscaras. Segundo o estudo, 91% das famílias responderam que as crianças usaram máscara nesse período.
— A paralisação das aulas feita logo no início da pandemia se mostrou correta — disse o secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido. — E, mesmo assim, vemos um contingente bastante expressivo de crianças com o vírus e que se mostraram assintomáticas.