Amazônia perdeu 14,5% de superfície de água nos últimos 20 anos, mostra MapBiomas
No rastro do desmatamento, o ciclo de chuvas é abalado e grandes áreas secam
No rastro da perda de floresta, a Amazônia também tem sofrido com a redução na quantidade de água. Nos últimos 20 anos, a região viu secar 1,7 milhão de hectares, uma diminuição de 14,5% no período. O estado mais afetado foi Roraima, que perdeu mais da metade (53%) de superfície de água, com o desaparecimento de 317 mil hectares de campos alagados. O levantamento, divulgado pelo MapBiomas, mostra uma das consequências no intenso desmatamento ocorrido na Amazônia nas últimas décadas.
Entre 1985 e 2021, a Amazônia perdeu 44 de hectares de florestas, o equivalente a 10 vezes o estado do Rio de Janeiro. Até o fim de 2021, a área de floresta ocupava 78,7% do bioma, que perdeu também vegetação savânica, campestre e mangue.
— A perda de água é consequência direta do desmatamento, da supressão da floresta. As árvores transferem água para a atmosfera, no processo de evapotranspiração. Se o bioma perde floresta, o ciclo hidrológico fica abalado. Em Roraima, o processo de mudança climática e perda florestal está fazendo secar os campos alagados, que existem também no Amapá e no Sul do Amazonas e foram um ecossistema associado. Há espécies de fauna que só sobrevivem nessas áreas — explica Luís Oliveira, pesquisador do Imazon e integrante da rede MapBiomas na Amazônia.
É nos estados do Amazonas e Pará, onde ficam bacias de grandes rios, como Amazonas e Tapajós, que se concentram 84,2% de toda a superfície de água do bioma.
Oliveira afirma que a redução na quantidade de água afeta também a própria floresta, que se torna mais suscetível às queimadas. Em áreas de vegetação mais seca, o fogo propaga mais rapidamente.
Segundo o pesquisador, a Amazônia sofre também com a poluição das águas por metais pesados, causada pela proliferação do garimpo ilegal. No ano passado, o garimpo respondeu por três em cada quatro hectares (74%) mapeados como mineração, que alcançou 217 mil hectares.
— O avanço do garimpo ilegal também gera consequência diretamente para as águas. Os metais pesados, como o mercúrio, usado na atividade, contaminam as águas. Indígenas e ribeirinhos, que consomem água sem tratamento, têm a saúde afetada. Isso sem contar a contaminação dos peixes, que servem de alimento para a população local. É um risco à própria existência dos povos indígenas, que sobrevivem da floresta e ainda enfrentam a violência — diz ele.
Embora o ciclo hidrológico provoque períodos de cheias na Amazônia, Oliveira explica que a tendência ao longo dos anos é a redução da quantidade de água.
O principal fator de risco para a Amazônia, diz ele, continua sendo a conversão da floresta em áreas de agropecuária. Os 44,5 milhões de hectares desmatados na região nos últimos 37 anos (1985 a 2021) foram convertidos para a atividade, que já respondeu em 2021 a 15% do bioma. Se consideradas apenas as pastagens para bois, elas ocupam 13% da Amazônia. O estado mais afetado foi o Pará, onde 35,2% das florestas do estado foram desmatadas e ocupadas por agricultura ou pastagem.
Tasso Azevedo, coordenador do projeto MapBiomas, afirma que já não basta ações de controle do desmatamento, mas de o Brasil criar políticas públicas e modelos de negócio que permitam desenvolvimento, ao mesmo tempo em que promova a conservação do bioma e o enfrentamento da crise climática.