Anvisa reitera veto a viajantes de mais quatro países da África após resistência do governo
Planalto considera frágil argumentação da Anvisa, pois não há casos da variante registrados em todos estes países
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) reforçou a importância de barrar a entrada no Brasil de pessoas que tiveram, nos últimos 14 dias, em mais quatro países da África: Angola, Maláui, Moçambique e Zâmbia.
O governo federal já barrou a entrada de pessoas de seis países após recomendação da agência reguladora. Caso inclua mais quatro países, subiria para dez o número de nações do continente na lista de restrições sanitárias por conta da nova variante ômicron.
O Palácio do Planalto considerou frágil a argumentação da Anvisa, pois não há casos da variante registrados em todos estes países.
Em reunião nesta terça-feira (30), membros do governo pediram para a agência dar melhores explicações sobre a razão de fechar a fronteira com países sem casos confirmados da nova variante.
Mas a agência defende que as restrições a estes quatro países seria uma medida de precaução. Ainda argumenta que são locais com baixa cobertura vacinal, dados escassos sobre a pandemia e que fazem fronteira com países onde há transmissão sustentada da variante.
A agência também argumenta que para identificar a variante não basta diagnosticar a doença com um teste RT-PCR. É preciso fazer o sequenciamento do vírus, o que exige uma estrutura laboratorial mais robusta.
O governo tem maior resistência a fechar a fronteira com Angola. Uma das razões é que será reativada uma linha de Luanda a São Paulo nesta quinta (2).
Em reunião no Planalto, membros do governo disseram que a retomada destes voos exigiu “esforço diplomático”.
“Isso é feito porque temos conta de que naquela região infelizmente a cobertura vacinal é muito baixa. Países como Angola, por exemplo, com o índice vacinal bastante baixo e de segunda dose ainda mais”, disse o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres.
“E pelo fato também de possuírem fronteiras contíguas com outros países onde há a transmissão sustentada dessa mesma variante. Soma-se ao fato da existência de aeroportos com linhas regulares para o Brasil, como o da Angola, com aproximadamente cinco voos semanais e que, no entendimento dessa agência, é razoável efetuar a restrição temporária”, continuou.
Torres disse que essas medidas fazem parte de um somatório de esforços para reforçar a segurança sanitária no Brasil. Ele voltou a defender também o passaporte de vacina, que autoriza a entrada no Brasil de pessoas vacinadas e testadas.
Não houve avanço no debate sobre cobrança de certificado de vacinação de quem chega ao Brasil. A Anvisa pede desde o dia 12 para a Casa Civil a aprovação do passaporte vacinal. Ainda há forte resistência do governo federal para adotar restrições mais duras.
“Tudo isso é um somatório de esforços, nenhuma medida por si só tem o poder, mesmo que seja de retardar, a chegada da variante sozinha. Mas em conjunto com todas outras entendemos que podemos aumentar a segurança sanitária”, disse Torres.
A Secretaria da Saúde paulista confirmou nesta quarta (1º) o terceiro caso da variante ômicron no Brasil. Há ainda casos suspeitos, sob investigação, no Distrito Federal, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.