Incêndio

Após 11 dias, bombeiros descartam vida sob entulho de prédio em São Paulo

Na semana passada, a polícia concluiu que um curto-circuito no quinto andar, provocado por excesso de aparelhos ligados em uma tomada, foi a causa do fogo no prédio

No 11º dia de buscas ininterruptas, os bombeiros descartaram a possibilidade de achar algum sobrevivente sob os escombros do prédio Wilton Paes de Almeida, que desabou no centro de São Paulo na madrugada do último dia 1º, após um incêndio tomar todos os 26 andares.

Na manhã desta sexta-feira (11), os bombeiros passaram a vasculhar o local com apoio de maquinário pesado, em uma área onde ficava o segundo subsolo do conhecido prédio de vidro no largo Paissandu. A realidade por lá é desanimadora, afirma o tenente Guilherme Derrite. “Encontramos as lajes muito compactadas, o que diminui a zero qualquer chance de sobrevivência.”

Até então, os bombeiros tinham esperança de achar algum sobrevivente porque, ao longo das buscas, foram encontradas “células de sobrevivência” debaixo dos blocos de concreto. Nesses espaços, as vítimas teriam oxigênio e temperatura adequados para permitir uma sobrevida.

O tenente dos Bombeiros diz também que, além da inexistência agora dessas “células de sobrevivência”, o passar do tempo e as condições nas quais foram achadas os restos mortais de desaparecidos até agora indicam que não exista mais chances de vida sob a montanha de entulho. “Quando encontramos o Ricardo, havia um corpo ali. Depois dele, passamos a recolher só ossos em condições bem difíceis, com muita sujeira. É uma pena, mas a situação é essa”, afirma.

A única vítima identificada continua sendo Ricardo Galvão, 38, o Tatuagem, que morreu engolido pela queda do prédio durante tentativa de resgate dos bombeiros. Ele estava preso a uma corda do lado de fora do edifício e, portanto, não foi atingido pelas chamas antes da queda. O corpo da vítima foi reconhecido por familiares e enterrado.

A tragédia deixou ao menos cinco mortos. Além de Ricardo, foram retirados dos escombros restos mortais que seriam de duas crianças e de dois adultos. Por ora, enquanto as perícias não são concluídas, a polícia e o Corpo de Bombeiros trabalham com o número oficial de seis desaparecidos. Na lista oficial estão a faxineira Eva Barbosa, 42, o marido dela, Valmir de Souza Santos, Selma Almeida da Silva, 40, seus filhos gêmeos, Wendel e Wender, 10, e Francisco Lemos Dantas, 56.

Curto-circuito

Na semana passada, a polícia disse que, após ouvir uma testemunha, concluiu que um curto-circuito no quinto andar, provocado por excesso de aparelhos ligados em uma tomada, foi a causa do fogo no prédio.

Reportagem da Folha de S.Paulo desta quarta-feira (9) relevou que ​o combate às chamas no prédio foi dificultado pela falta de água em hidrantes da região central. Isso obrigou os bombeiros a adotarem uma espécie de racionamento no auge do combate ao incêndio, com a redução da potência de jatos das mangueiras.

A economia forçada de água ocorreu em uma estratégia para que as mangueiras não ficassem completamente secas enquanto os caminhões-pipa da corporação se revezavam em ação de apoio à operação. O prédio invadido pelos sem-teto tinha muito material inflamável, como papelão e madeira, e a retirada dos elevadores transformou os buracos em verdadeiras chaminés, que jogavam o calor para os andares superiores do prédio.

O desabamento provocou ainda a interdição de cinco imóveis em seu entorno, sendo quatro prédios e a igreja. Segundo a Defesa Civil, todos os bloqueios são totais e não há previsão de liberação. Não foi encontrado risco iminente de colapso em nenhum deles, mas eles seguem monitorados pelo órgão.

Um desses imóveis é o edifício Caracu, localizado na rua Antônio de Godói, que foi liberado para a entrada de moradores pela primeira vez na última sexta-feira (4). As pessoas puderam retirar pertences pessoais, como documentos e medicamentos, mas não puderam permanecer no local.

Também estão interditados a igreja, no número 34 da Avenida Rio Branco; um prédio, no largo do Paissandu, 132; e um edifício estreito da Antônio de Godói, que ficou com marcas das chamas em sua fachada. Essa última construção conta como duas interdições por ter duas numerações (8 e 26).