ORÇAMENTO

Após cortes, universidades federais reduzem auxílios a alunos vulneráveis

Verba para custeio de atividades e manutenção dos campi sofre redução de até 36%

Verba para custeio de atividades e manutenção dos campi sofre redução de até 36% (Foto: divulgação/ O Liberal)

Com cortes orçamentários de até 36% das verbas de custeio determinados pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido), universidades federais vivem um cenário de estrangulamento, com a suspensão parcial de bolsas para alunos vulneráveis e impacto até em pesquisas para vacinas contra a Covid-19.

Parte das universidades, como as federais do Pará, do Acre, de Santa Maria (RS) e de São Carlos (SP), já temem não ter condições para retomar as aulas presenciais no segundo semestre deste ano.

O Ministério da Educação afirmou que se esforça para mitigar os efeitos das reduções orçamentárias impostas às universidades e recompor as verbas.

Os cortes sucessivos são registrados desde 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro. Professores tiveram que comprar camundongos com o próprio dinheiro para não interromper pesquisas, e universidades tiveram que cortar até o bife dos restaurantes universitários.​

Na Universidade Federal da Bahia, que perdeu R$ 30 milhões da verba de custeio, o contingenciamento arrochou os R$ 7,2 milhões que eram destinados à assistência estudantil, atingindo 4.700 alunos.

Os cortes atingem principalmente os mais vulneráveis, caso do estudante indígena Kahu Pataxó, 30. Natural da aldeia Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália (no sul da Bahia,), ele cursa o sexto semestre de direito.

Ele recebia R$ 900 de bolsa permanência, destinada à moradia de indígenas e quilombolas fora do domicílio, mais R$ 400 para alimentação. Com os cortes, os dois auxílios de Kahu passarão a ser de R$ 830 e R$ 200.

“É um dinheiro que uso para sustentar minha família, pagar o aluguel e a alimentação”, afirma Kahu, que mora com a esposa e tem dois filhos que ficam na aldeia para não perder o contato com a cultura indígena.

A estudante Mirian Hapuque Magalhães, 31, aluna do bacharelado de artes, também foi atingida pelos cortes. Natural de Alta Floresta (MT), ela deixou na terra de origem a filha, à época com 3 anos, para ser a primeira da família a cursar uma graduação.

“Não sabemos se teremos condições de continuar”, afirma Mirian, que divide um imóvel com colegas para não ficar em condição de insegurança alimentar.

O reitor João Carlos Salles afirma que o orçamento para custeio da universidade para este ano é inferior ao de 2010, quando a universidade tinha 27 mil estudantes. Atualmente, são 42 mil. “É uma política de sucateamento”, diz.

Na federal de Pernambuco, que também registrou em 2021 o menor orçamento da década, os cortes afetam pesquisas para o desenvolvimento de vacinas e testes para diagnósticos da Covid-19.

“Temos feito sequenciamento genético, monitoramento de novas variantes e projeto de pesquisa de vacina. Temos procurado parcerias com outros entes para mantermos tudo em andamento”, disse o reitor Alfredo Gomes.